quinta-feira, 8 de abril de 2010

Para Isadora Malta.

Diogo – Gente, ela deve estar bolada…

Diogo – Gente, quem não está? É essa chuva que não pára…

Diogo – Não. Eu não falei em relação a isso…

Diogo – Em relação a quê, então?

DIogo – Você sabe.

Diogo – Sei?

Diogo – Sabe.

Diogo – Sei.

Diogo – Não acha que é o suficiente para ficar bolado?

Diogo – Olha, sinceramente. Você não percebe as coisas do jeito que elas se mostram na realidade.

Diogo – Ah, não?

Diogo – Não. Sinceramente. De verdade. Cadê o problema?

Diogo – Você não vê? É uma questão de ser ofensivo. De ser grosso. Sei lá.

Diogo – Ah, por favor. Não tem nada. Pára de achar problema onde não tem.

Diogo – Mas o que você disse…

Diogo – O que nós dissemos. Nós.

Diogo – Sim. Isso. Aquilo, eu quero dizer. Eu achei pesado. Vamos apagar?

Diogo – Não.

Diogo – Vamos?

Diogo – Não.

Diogo – Por quê?

Diogo – Porque o que escrevemos só assegura o quanto ela está certa. O quanto estamos enrolados.

Diogo – Como é?

Diogo – O que ela escreveu… É o retrato fiel de nós dois nesse exato momento.

Diogo – Espera um instante…

Diogo – Não. É sério. Olha… A gente tá perdido. Completamente perdido. Foi isso o que ela quis dizer com tudo aquilo. Ela quis dizer, ou pelo menos foi o que me pareceu, que somos isso ai. Isso aqui. Enfim… Entende?

Diogo – Sinceramente não. Tá me parecendo que você quer se desculpar e não tem coragem.

Diogo – Não é questão de desculpa. Olha… Uma vez um amigo me disse que o papel do amigo é dizer as verdades.

Diogo – Mas quem determina o que é verdade ou não?

Diogo – Calma. Eu quero dizer. A gente disse o que naquele momento fazia sentido para os dois. Se estamos certos ou errados não importa. Importa que fomos sinceros.

Diogo – Eu não sei…

Diogo – Você não foi sincera?

Diogo – Fui. Eu fui. Fui sim.

Diogo – Então pronto. O objetivo não era magoar. Sinceramente, se eu não puder dizer certas coisas dentro de casa é melhor que então eu saia.

Diogo – Você é irredutível, sabia?

Diogo – …

Diogo – O que foi agora?

Diogo – Não. Eu não estou magoado. Estou só pensando.

Diogo – E precisa fazer essa cara?

Diogo – Desculpa. Eu estava pensando.

Diogo – Pensando em quê?

Diogo – Que eu sou mesmo um pouco irredutível…

Diogo – Ah, só um pouco?

Diogo – Alguma coisa. Não importa.

Diogo – O que foi?

Diogo – O quê?

Diogo – O que foi, que agora você tá com essa cara?

Diogo – Ah… Você sabe… São coisas do amor. De quem ama. Quer dizer, de quem está amando. Você sabe.

Diogo – Não, eu não sei. Me diz você.

Diogo – Eu tô bem, relaxa… É só que não dá para ter tudo, não é verdade?

Diogo – Sim. É a pura verdade. Você só precisa exorcizar isso aí no seu peito.

Diogo – Isso o quê?

Diogo – Não sei. Esse buraco, talvez. Isto. É isso. Você precisa cantar pra subir.

Diogo – Quem falou que eu precisava saber da cor preferida? Saber antes de tantas coisas que agora eu sei? Quem falou que eu precisava desde já ter dividido tanta confidência, tanta coisa, tanta crise, tanto problema, tantos casamentos passados, tantos beijos, corpos frequentados, quem falou? Por quê?

Diogo – Você já está flechado, querido.

Diogo – Não quero.

Diogo – Já foi-se.

Diogo – Não quero. Não quero! NÃO QUERO!

Diogo – Quer sim. Você sabe. Não me retruque.

Diogo – O tempo esteve fora do nosso esquema, foi isso.

Diogo – O quê?

Diogo – O tempo esteve fora do nosso esquema. O tempo não funcionou entre a gente. Funcionou com todo mundo, menos com a gente. Nossos beijos se mediram em outra medida, os passos foram contados de outra forma, os sorrisos inauguraram outra forma de dizer felicidade. E agora, eu sinto, eu sei, eu acho, eu sinto, eu sei… Adeus.

Diogo – Nossa. Você fica incompreensível quando está assim…

Diogo – Assim como?

Diogo – Você sabe?

Diogo – Sei?

Diogo – Sim.

Diogo – Sei. E o que importa? Isso não resolve porra nenhuma. A culpa foi minha. Eu quem pedi, naquele dia, fui eu, eu disse, me conta tudo o que você tá sentindo nesse momento. Eu nem perguntei. Eu falei com ponto final.

Diogo – E o que ele disse?

Diogo – Ele… Bom. Ele… Ele disse como ele já era. Disse como já funcionava. Ele disse o que nele já tinha se estabelecido. Ele olhou para mim e eu não disse nada. Fiquei feito pedra no sol, latejando sem sair do lugar. Eu disse, dias depois, eu demorei dias para voltar a funcionar, eu disse, dias depois, eu disse que eu estava ali, com ele, para me desarfirmar para me revelar o eu que eu não sei para gostar das coisas que eu julgava não gostar eu disse que estava de mãos dadas ali cruzando com ele a avenida porque eu queria correr o risco de desmaiar sob o sol e ser socorrido que eu estava testando até onde eu não havia ido que eu estava mudando que eu estava me alterando é isso que eu estava mudando assim quero dizer que ele na minha vida não era mais a minha vida apenas que eu precisava me afetar que era importante…

Diogo – E ele?

Diogo – Bom… Hoje, eu sinto, eu sei, eu acho, eu sei, bom, ele ficou com as portas fechadas. Ele gosta das coisas que eu falo ou escrevo ou melhor que eu falo, mas isso já não significa nada porque a noção de outro para ele se resume a ele mesmo.

Diogo – Caramba. E você?

Diogo – E eu? Eu não conto, né? Eu sobro. Eu, aliás, eu sobrei porque mais uma vez eu acreditei que podia ser humano, sabe? Ser sincero. Sentir dor e dizer, nossa, tá doendo. Eu sobrei porque eu fiz poesia quando na verdade o mundo queria algo mais concreto. Eu sobrei porque eu me permiti ficar quieto olhando apenas. Eu sobrei porque eu pensei, lá nos nossos começos, eu pensei meu deus, eu vou sobrar nessa história. Mas… AUSHUhsuahushushusahuahUHSu… Eu tenho meus amigos, ainda. Eu acho, eu sinto, eu sei.

Diogo – Você tem. Você tem. É claro que você tem.

Diogo – Tenho né?

Diogo – Olha pra mim.

Diogo – Que foi?

Diogo – Não fala nada. Olha. Apenas.

Diogo – …

Diogo – Isso. Você vê?

Diogo – Eu…

Diogo – Não fala. Escuta. Olha. Vê?

Diogo – …

Diogo – Acha você aqui dentro dos meus olhos. Acha.

Diogo – . . .

Diogo – Isso. Eu tô me vendo em você. Agora diz, agora pode dizer, você se vê aqui em mim?

Diogo – Aham.

Diogo – Viu, pequena? Você é minha. Já é meu corpo. É minha rima, faz parte do dia, da agenda, do transtorno. Não há possibilidade de escapar. Nem morrendo, acredite. Você tá frisada. Tá marcada. Sim, é clichê, mas feito tatuagem.

Diogo – E o que isso pressupõe?

Diogo – Que você está tão certa quanto um e um são um.

Diogo – Como?

Diogo – Um e um são um.

Diogo – Não!

Diogo – Sim!

Diogo – Não! Não pode ser!

Diogo – Pode sim! 1 e 1 são 1.

Diogo – Você me deixa triste, às vezes.

Diogo – É que hoje tá chovendo e…

Diogo – E o quê?

Diogo – Me deu vontade de ver ela. Abraçar forte. Chorar junto.

Diogo – Ai, que horror.

Diogo – Sim. O horror faz parte desse mundo. Quero mil cafés ao lado dela e ouvir tudo. Sem pressa. Sem freio. Purgar a dor e fazer a vida de novo virar recreio. Será que ela vai topar?

Diogo – É claro que vai.

Diogo – Convida ela então.

Diogo – Vou convidar.

Diogo – Mas não para falar de coelhos, certo?

Diogo – Não. Apenas para falar dos que ainda estão por cair.

Diogo – Ok. Se for assim, pode. Eu deixo.

Um comentário:

Isadora Malta disse...

o que fazemos com isso?

eu comigo mesma!?