sábado, 27 de fevereiro de 2010

COMPLETUDE

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virá com seu enterro.

LIBERDADE

é dormir porque seu despertador foi roubado.

AFORISMO

é uma futura citação.

DOR DE CABEÇA

é toda e qualquer dor.

IRRITAÇÃO

é a sensação de estar vivo, ou chato.

REPETIÇÃO

é fome ou tatuagem.

ESTÉTICA

é o algo exterior da ética.

INCOMPREENSÃO

é a dificuldade de calar uma boca cheia.

POESIA GRATUITA

é aquela feita de bom grado.

Os ponteiros do relógio estavam entortados e as horas absolutamente arranhadas por minhas próprias mãos.

de novo

Coloquei a cafeteira no fogo. Deixei ela lá, eu esqueci ela e não entendo o porque. Acho que me arrependi.
Voltei duas horas depois e Tudo tinha se acabado. Estava absolutamente tudo acabado.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Para o Godot que estamos vendo nascer:

De todas as dores que eu sinto hoje, a dor da espera é a única que me sufoca. Me impossibilita o movimento.

que es esso

clique sobre a imagem para ver o texto.

violenta

muita fita pra pouco café, muito texto pra pouca vivência, muito cigarro pra pouco pulmão, muito pulmão pra pouco ar, muito amor pra pouco coração, muita vontade pra pouco tempo, muita rede pra pouca comunicação, muita convivência pra pouco contato, muito banco pra pouco dinheiro, muita música pra pouca dança, muito sexo pra pouco espaço, muita disposição pra pouca escuta, muita liberdade pra pouca disponibilidade, muito calor pra pouco ar condicionado, muita flor pra poucos olhos, muito mar pra pouco peixe, muito sol pra pouca praia, muito quadro pra pouca parede, muito livro pra pouca mesa, muita comida pra pouca fome, muita palavra pra pouca atitude, muito entendimento pra pouca concretude, muito desequilíbrio pra pouco apoio, muito peso pra pouco carinho, muito horário pra pouca agenda, muita pia pra pouca louça, muita saudade pra pouca distância, muita tempestade pra pouco copo, muita dor pra pouco peito, muito bar pra pouca conversa, muita pauta pra pouca reunião, muita história pra pouca memória, muito pouco pra muito...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

É tanto quadro que me faltam paredes.

Para quem quer conversa.

Terça-feira de carnaval, madrugada. Ele me mandou uma mensagem dizendo que "precisamos conversar". Concordei. Talvez, ele não tenha gostado da minha atitude: ir embora assim, sem falar. Depois da minha resposta ele mandou outra mensagem dizendo: te ligo com certeza essa semana. Aprendi na escola que a semana tem sete dias e que o domingo é o primeiro deles. Hoje, é domingo, começamos uma nova semana. Ele não ligou. "precisamos conversar".

discusão de um domingo

Ela fala duas palavras que não deviam ser ditas. Ele escuta, não respira e sai. Xinga. Erro número 4. Sai e ela vai atrás. Ele entra no elevador e ela segura a porta. Entra também. Pede desculpas. Ele não escuta. Já não pode escutar nada mais. Ele grita de novo e fala com os olhos cegos: "não fala mais comigo, eu quero que você fale cada vez menos comigo". Ela escuta com os ouvidos sensibilizados. Isso não existe, ela sabe que ele está louco. Vai tentar entender mais uma vez, mas daqui a alguns minutos vai desistir. Eles chegam ao térreo. O vento passa e eles não sentem. Ele sai e ela vai atrás. Atravessam a rua. Sorte de não serem atropelados. Ela pede desculpas de novo(pela grosseria), mas diz que vai continuar tendo esse tipo de postura. Pra ela é direito dela. É seu espaço. Ela gosta de lutar por ele. Ele acredita que ela já tem o bastante. Não entende que o espaço não pode ser só no coração e tem que ser na casa também. Tem que ser entre eles. Isso é o que ela fala. Ele grita mais. Xinga de novo, manda ela calar a boca. Ela fala que não vai ficar ouvindo as grosseiras dele. Atravessa, quase é atropelada. Ele vai atrás. Ela entra no elevador, percebe que não tem jeito e segura a porta pra ele. O elevador sobe, ele abre a porta de casa gritando, falando mil coisas impossíveis de serem escutadas. Ela cansou, entra em casa e joga a bolsa no chão com toda a força que estava guardando. Ele coloca o dedo na cara dela. Mexe nos móveis. Ameaça bate-la. Ela nesse momento pára como quem fala: bate. Ele surpreendentemente desiste. Fraco. Ela, fraca, pega a bolsa e atravessa a sala, o corredor e sai pelos fundos. Tranca a porta, quando ela estava no primeiro degrau da escada ele abre a porta. Antes que ele grite: "Isadora, volta aqui!" ela esta parada, segura a bolsa, vira e encara ele e seus olhos de monstro. Eles entram. Ela chora. Seus corpos não aguentarão mais tempo. Alguém tenta salvar. Falta de sensibilidade e ignorância. Ele sai. Ela chora em soluços. Ele volta. eles tentam perceber o amor que existe e ela chora ainda mais pois sabe que está ali. Ele sofre, tenta se acalmar. Isso é difícil pra ele. Isso é difícil pra eles. É sempre difícil, sejamos mais pacientes. Tudo passa. E volta. Vou seguir o conselho brilhante que ouvi e "engolir meus sapos".

parabéns

Quando eu gosto dói não poder dar parabéns no dia do aniversário. Eu tô gostando. Dói sua insenssibilidade. dói chegar em casa e você não deixar eu te abraçar e te dar: parabéns. Dói ver você se esforçando pra não abrir um sorriso pra mim só porque ficou irritado com o copo quebrado. Dói sabia? Você não sabe né? Muita sensibilidade, muito drama como você diz. Vai acabar no sofá, com o controle remoto caindo das suas mãos sem você nem perceber. Dói ver que na verdade você é fraca, não tem a força que eu sempre pensei. É fraca porque na hora que você só precisava tomar a atitude de me dar um abraço veio com suas verdades absolutas e me julgou pela 1000.000.000.000.000.000 vez. Fraca! Eu sou dramática? Dói ouvir uma pessoa falando sobre si em uma outra. Dói acusação. Dói o SEU drama. os seus gritos. A sua violência pra mim! Olha a sua idade. Se enxerga! Adote uma postura de homem! e pára! PÁRA! Pára de gritar. Dói e eu não vou ficar ouvindo suas grosserias. Meu Deus! me escuta. eu te avisei. Agora que eu falo que não vou ficar ouvindo suas grosserias você vem atrás de mim. Ué, não vem tentar outra abordagem? Além de tudo é burro. Idiota. Se você vir grosso atrás de mim, com seus gritos, ladrando feito um cachorro, perdendo sua voz se desfalecendo aí, aí meu amor eu vou entrar por uma porta e sair pela outra. Já sei esse percurso de cór. E se você vier atrás aviso. Não vou deixar você pegar nos meus braços pra me segurar. Quando você gritar meu nome eu vou parar, segurar minha bolsa, virar e olhar pra você. Te enfrentar. Enfrentar seus olhos de monstro mesmo que isso doa. E vai doer, de qualquer jeito. Eu te avisei. Principalmente se você continuar tapando seus ouvidos, sendo covarde e insensível E depois de tudo voltar para seu sofá e segurar o controle remoto com as mãos carregadas de raiva.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

aniversário

da série intrigas familiares:
meu irmão fez aniversário na última terça-feira.
liguei para ele ao término do dia
e disse
espero que tenha tido um ótimo dia.
______________
telefone no gancho.
é este um movimento familiar.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

com outro alguém. eu sei quem é.

                                                       
eu passei pela lapa e fiquei lá perdido. depois eu fumei dois cigarros seguidos. eu andando pela rua, pelo povo, eu pisando em ovos em latas em lixo. era eu aquele caminho. assim, precisamente. e você tinha seguido. já tinha ido. que complexo podemos ser, não? eu tinha ido te ver. você tinha dito ter saudades. eu tinha saudade e tendo dito isso você, eu corri a dizer: eu também sinto saudades de você. algumas coisas não precisam ser ditas. foi a sensação que eu tive ao te encontrar e ao perceber que o nosso abraço não acontecia. quantos amigos você tem. eu tive que dar conta de todos eles quando queria apenas dar conta de nós dois. eu fico bravo. eu fiquei bravo. eu estou bravo. e sozinho. deixei que os amigos fossem carnavalizar e persisti sozinho. eu preciso me encontrar. passei pela lapa para te ver. para me bater com aquela saudade que dizíamos mutuamente ter. um pelo outro. que pena. foi estranho nosso encontro. eu sei dizer o motivo, mas adianta? se eu sei e você não se permite me dizer. se você sabe que eu sei e mesmo assim cala, como se eu não soubesse da complexidão que é você. eu fui até você porque me importo. contigo. me importo comigo. e depois, me importa a nossa noção de união. eu estou com você. você está comigo? eu vou esperar mais uma vez você voltar. eu vou esperar. eu preciso. e quando você chegar e me ligar, eu vou te encontrar e não vou beijar. não nos beijamos antes de ontem. quando voltares, não vou beijar. vou calar e te olhar. e deixar que fale você isso que se complica entre nós. justamente porque foste incapaz de dizer. justamente porque fui incapaz de perguntar. boa viagem. bom encontro com aquele que não quis a mim desvendar. eu sei que você foi para ficar com outro alguém. eu sei quem é. sei nome, já troquei contato carinho e opinião. não precisava ter escondido de mim. não precisava mesmo. não. mas se o fez. eu devo admitir. deve ser porque as coisas em você estão dez vezes mais complicadas do que em mim. então: resolva-se. estou aqui. mas se resolva antes de voltar a minha pele. antes de deitar em minha casa e dizer que se importa.
             

os créditos de 2 minutos

eu passei pela Lapa e deixei o meu ventre. Andei por copacabana e esqueci meu endereço. Me levaram pra casa. Uma pele só. Fui pra Urca procurar meu coração que já tinha se perdido a alguns anos anos. Passei por Botafogo, perdi o celular. Achei, perdi o controle das minhas lágrimas, voltei pra Botafogo e encontrei meu amor. Voltei pra casa. Uma pele só. Um mesmo amor. Saudade. Dor no peito passando pela Glória perdi meu celular novamente. Me levaram em casa. Voltei pra Lapa. Achei minha casa e descobri que a casa que me levaram antes era só meu endereço. Uma pele só. Preciso dar um nome de casa pra ela de novo. Me falaram em casamento. Amei. Amei de novo. mais uma pessoa, o mesmo amor. Fui ao centro vestida de bailarina. Contei uma mentira. Dancei e esqueci meu nome. Me amei. Ele ainda não me lembrou qual é. Fui florida no corpo encontrar ele, o nome dele. Ãh!? Qual é? Deixei minha identidade em Santa Teresa. Voltei pra Lapa. Junto com o meu ventre deixei meu cartão de crédido. Me dei, me entreguei mais 2 min. Você não viu. Uma pena. Você passou pela Lapa e não viu o meu ventre, por Copacabana e não lembrou meu endereço, por Botafogo, pisou no meu celular e não teve coragem de falar comigo olhando nos meus olhos. Meu coração estava na sua mão e você também nem percebeu. Seu medo não deixou. Você não enxugou minhas lágrimas e não voltou pra Botafogo. Você voltou pra casa. Quando eu fui atrás você já tinha saído e só lembrava meu endereço, mas tinha esquecido de se aproximar da minha casa. Você não me falou em casamento, aliás você não sabe o significado apesar de saber de tantas outras coisas. Você foi ao Centro e não percebeu que eu estava esquecendo meu nome e que ele precisava ser lembrado. Perdi, ainda não achei, já disse. Vou esperar mais 2 min pra você me contar. Esse pode ser o tempo de um amor, mas se eu estiver florida no corpo saiba que ele pode durar um pouco mais. Se você souber disso talvez eu não precise deixar minha identidade em Santa Teresa. Espero que você não tenha passado por aquela rua e chutado ela sem querer, junto com o lixo que deixaram. Vou parar de perder as coisas por ai. Talvez amanhã eu volte pra pegar meu cartão de crédito e leve meu ventre embora comigo pra que meu corpo possa se perder por outros caminhos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

high and dry

é sempre assim. ela vem, passa uns dias e depois vai embora. acho que ela só vem para dar a nós a vaga noção de sua existência. ela não quer ser esquecida. e por isso se marca em nós ao chutar a parede, ao calar a própria boca, ao se fazer de poesia e assim, se metaforizando, ser tudo e nada ao mesmo tempo.


olha, ela partiu. ficamos todos nós soltos de novo aqui dentro de casa. ela vem e vai. por que eu não posso ser assim? por que eu não posso sumir e voltar quando quiser? eu quero partir e voltar causando frisson, voltar causando alarde.


certas existências existem para nos fazer desistir de as requisitar.


certas existências marcam a falta a falta a falta a falta de ar.


eu queria que ela aqui estivesse mais. não somente fotografando os pés, não somente filmando a face. queria ela inteira isso não é pretensão é sinceridade.


mas fazer o quê?


um dia eu aprendi a perguntar as coisas a sei lá quem... desde então eu me acostumei a não ter respostas. fazer o quê? é retórica vazia e deprimida. é diálogo eterno com o vazio da espera de outrem. dela. espera dela. ou do trem. do trem. do trem sobre o trilho.


não, isso não te violenta. mas nem toda violência nasce predestinada a isso. às vezes ela acontece. e se eu te dou hoje um beijo, não saberemos, mas isso pode acabar contigo. e comigo. e com a criança na praça que avistar o nosso encontro.


desculpem, queridos.


estou um pouco alto.
estou um pouco alto.
e queria tanto estar com os pés no chão.


daqui a pouco eu volto.
daqui a pouco eu volto.
e quererei tanto estar sem pés nem chão.








que estranhos somos, não?



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educação


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

eu. você e vocês

Faltava um rim nela. Eu te abracei e choramos, nós todos, no nosso infinito de 4. Uma imensidão.

Uma imensidão que nos habita.

A casa ganhou mais uma marca.

Uma notícia.

Amanhã ele vai perder o coração. Aí mais uma imensidão será chorada. precisamos de você, lembre-se disso, minha amada. Ele vai se afogar nas próprias lágrimas se você nos deixar. Viver é difícil e se deixarmos ficaremos em função da nossa morte. Paciência e calma é o que te peço. Vamos ficar juntos agora. Vamos fazer nosso tempo. Nosso templo que nos habita. Nossa imensidão.

Vamos pra rua? A gente pode correr, dar um mergulho no mar, deitar no chão, ter uma crise de riso,uma de choro, não importa. Ou podemos ficar aqui mesmo, na nossa habitação, onde somos sempre acariciados pelas marcas, novas e velhas. Não importa o que os outros vão pensar...eles também nos habitam quando estamos juntos. Quando estamos juntos todos querem nos pertencer também. Vamos nos entregar. Quer dormir comigo? Eu durmo e divido todo meu amor com você por hoje. Amanhã quando eu precisar sei que você estará aqui. Você. Vocês. Vai, estou chegando, vou me deitar ao seu lado, chorar com você, depois vou enxugar as mesmas lágrimas que choramos juntos e te levantar do chão que dividimos. O nome disso me falaram ontem que é casamento. Não importa, pra mim talvez não tenha nome mesmo. Eu vou amar do mesmo jeito. Pra você, meu rim, meu sangue, minha espinha, meu ventre, minha barriga, minha costela. Pra vocês, meu amor.

um beijo eterno, eu.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tenho saudade de...



Eu tenho saudade das nossas fantasias. Tenho saudade de quando era bom ouvir você me chamar por outro nome. Tenho saudade das vezes em que gozamos juntos e também das que gozamos em separado. Tenho saudade de lhe esperar arrumando, de me vestir de puta, de me travestir para você. Tenho saudade das cores que você me fez vestir para depois rir delas e mijar nelas. Tenho saudade dos desenhos e livros que escrevi enquanto existia você, dentro de mim. Tenho saudade do nó de minha gravata que nunca conseguíamos desfazer. Tenho saudade de você. Tenho saudade da comida congelada e até do mel que agarrou em nossos pentelhos e um banho quase não foi sufiente. Tenho saudade das crises de gargalhada, do medo dos vizinhos e mais ainda das pessoas que habitavam a sala. Tenho saudade da batata palha, da nutela, do morango com sorvete que deliciei entre seus seios. Tenho saudade de poder me reinventar para ser outro ao seu lado e com outro ou outra amar. fazer amor. Tenho saudade também da dor que sentia em ir embora, deixá-la assim, vestida de negro, sozinha. Tenho saudade do som de nossa campainha. Tenho saudade das roupa de baixo, do baixo ventro e também do baixo salário. Tenho saudade de ganhar no Bingo para poder jantar fora, de viver de economias e sentir-me rica. Tenho saudade dessas duas fotos que, agora, ilustram esta carta que mandarei para você. Tenho saudade deste dia em que nos transformamos e fizemos do meio ano puro carnaval. Tenho saudade da folia em meu coração. Tenho saudade de uma porrada de músicas, da nossa canção. Tenho saudade de quando levávamos o cachorro para passear. Tenho saudade de me arranhar. Tenho saudade de suas/nossas paredes coloridas, nossos cabelos e fotos. Tenho saudade de ver nossos livros namorando na mesa de canto. Tenho saudade do ventilador barulhento, do cinzeiro cheio de marcas de cigarro diferentes. Tenho saudade de como fomos a gente. Tenho saudade me vestir de palhaço, subir as escaderias e cantar o fim da madrugada. Tenho saudade de ver você acordando e também de acordar ao seu lado. Tenho saudade das vezes em que chamamos os nossos nomes ao mesmo tempo. Tenho saudade de ir ao supermercado, pensar no jantar, na sobremesa e no guloseima para a hora da tv. Tenho saudade de alugar filmes e filmar você. Tenho saudade de passar a semana planejando lhe ver. Tenho saudade do céu e do inferno que criamos para a nossa convivência. Tenho saudade de nossos planos, todos, os que foram e não foram concretizados. Tenho saudade de nossas brigas, conversas e diálogos sobre os nomes que daríamos a nossos filhos que nunca vieram. Tenho saudade da sua viagem. Tenho saudade das cartas que escrevemos. Tenho saudade... E por todas as saudades que tenho, permaneço.

Fotos: Maíra Mathias.

Parede

" olha , eu to aqui calada , quebrando minha parede à pontapés" ( casamento expresso)

Parede




" olha , eu to aqui calada , quebrando minha parede à pontapés" ( casamento expresso)


Olha! Eu tô aqui!

Olha! À pontapés, eu calada, quebrando paredes.

Olha , eu to ( me ) quebrando à pontapés.

Eu tô aqui ! Olha!

Calada , aqui . Eu calada , eu à pontapés. Eu : pé e outras partes , que já não mais estão de pé. Me responde essa escrita. Não me deixa partir. Não me diz qual deve ser o tamanho do meu cabelo , ou a cor da minha unha. Eu, aqui calada , pedindo um sorriso , sem dor, sem " ai". Eu, pedindo para caber de volta nos seus braços. Me olha , me deixa ficar. Olha , eu to aqui calada , quebrando minha parede à pontapés.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Da voz de meu tribunal.

Meninos para um lado e Meninas para o outro. O pai dele é surfista. Quando pequeno, por orgulho, amor ou simples admiração tinha também os cabelos grandes, que eram loiros, assim como o pai. Era bonito ser criança ao lado daquele homem. Ir passear na praia com ele, mesmo não vendo muita graça na graça das ondas quando quebram bem forte. O pai dele é surfista. Foi o pai mesmo quem o matriculou na escola, o levou e buscou no primeiro dia de aula. Mas este mesmo pai não notou que o filho que viu adentrar os portões do colégio novo, não foi o mesmo que saiu deles. Era legal ser filho daquele homem, compreender seu estilo de vida, buscar imitar. Acontece que na convivência escolar "estilos de vida e/ou aparência" não são tolerados, copreendidos, vistos e estudados. Aprende-se tudo. Só não se aprende a olhar com atenção para o outro. É que o filho, homem, sexo masculino adentrou os portões da escola e deles saiu menina. Foi a tia quem separou a turma. Para facilitar as apresentações para os colegas, disse, a tia. E no meio desta ação, ele, filho dé pai surfista, cabelo grande e loiro foi parar no lado outro e não no lado um. Ficou sem lado. Envergonhado. A tia não foi capaz de observar que atrás daquela enorme e bela crina existia um meninO e não uma meninA. Ele se apresentou como tal. Ou qual. Acharam divertido uma meninA chamar João. Acharam "estrangeiro' uma meninA chamar Jorge, Jóse, Matheus, Paulo e Antônio Lucas. Acharam, pois esses nomes não costumam ser dados as meninas. Pois é, não costumam. Mas a tia não reparou. Cometeu um erro. Afinal, todos erram? O filho de pai surfista entrou no carro sem dar uma nota e assim foi durante todo o caminho de casa. Talvez, mais tarde, tenha conversado com a mãe. Dizem que as filhas meninas tem mais afinidade com as mães. Essa, deve ser mais uma verdade de alguma tia. Penso no menino, que feito de menina não soube o que fazer. De repente, o que era mantido para orgulho de seu pai o transformou por inteiro. Eu não sei como julgam as tias em nosso país. Mas dentro de minhas convicções, perto de meu coração e certeza: em meus escritos ela será para sempre culpada.

e-mail para um pai

T.

Se você não fosse tão egoísta e tão omisso, teria percebido que já cresci há muito tempo. Saudável e bem educada, não graças à você, é claro. Também já teria percebido que venci muitas batalhas, principalmente as relacionadas à você. Por essas vitórias, adquiri o direito de questioná-lo. Direito esse, que independe de sua vontade ou aprovação. Não venha se vangloriar por já pagar suas contas com 17 anos. Isso não te torna especial, apenas te coloca igual ao restante de sua família e de grande parte das pessoas de sua geração.

Não te vejo como uma pessoa indicada para falar de humildade, pois se essa fosse uma característica sua, você jamais se elogiaria dizendo que é sucesso e modelo. Parece que você está meio confuso. Precisa se definir: ou mantém a máscara da humildade e da generosidade, ou deixe que ela caia e revele a sua arrogância. Já pensou? Quanta decepção para os seus "declarados admiradores e seguidores". A sua "trajetória de sucessos" cairia por terra. Você não passaria de uma farsa.

Os adjetivos que usou para me qualificar, apenas vêm confirmar que além de ser um estranho, você é totalmente desprovido de argumentos. O que chega a ser deprimente. Mais deprimente ainda, é quem se julga tão experiente, tão especial, vitorioso e que tem a sua idade, ainda não ter aprendido que respeito não se impõe, conquista-se! E no que me diz respeito, você não fez nada pra merecê-lo de minha parte. Mas fiquei feliz em saber que, ser vencedor e ter sucesso, não têm o mesmo significado pra nós. Para mim, as características de um vencedor são a dignidade, o caráter firme e a honra em cumprir compromissos e responsabilidades. Não sei se você percebeu, mas essas características giram em torno de questões morais, e não questões rasas e obtusas, como aparência, status e dinheiro que norteiam as suas decisões.

Sinto te informar que você está equivocado quanto à minha dívida. Se você próprio não tem humildade para reconhecer seus erros e se desculpar por eles, não tem nenhum direito de exigir de ninguém essa atitude, muito menos de mim, à quem você nunca ofereceu nada. Se não tem capacidade para lidar com a verdade e nenhuma habilidade para lidar com "filhos", não é me atacando que você vai conseguir aliviar as suas culpas. Você, como qualquer outro, vai ter que conviver com as consequências de suas escolhas.

Não se preocupe com futuros emails sobre essa ou qualquer outra questão. Não tenho nenhuma intenção de me comunicar com você novamente, por nenhum meio. Mas quero que saiba que estarei sempre pronta a respondê-lo, não com ataques covardes e infundados como os seus, mas sim, com argumentos sólidos e verdadeiros.

Por favor, se algum dia tornar a se comunicar comigo, não mencione "Deus", esse nome deve ser preservado, merece todo o respeito e não deve ser envolvido em tanto egoísmo e mesquinhez. Afinal, "Deus" é pai. O que você nunca foi.

Adeus.
I.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

naquele dia em que te deixei partir

Talvez desse tempo, mas não conseguia pensar em mais nada. Eu estava ali nua na sua frente como de costume minhas mãos estavam tremendo desesperadamente e logo bem rápido minhas pernas passaram a acompanha-las tive medo de mim mesma meu corpo todo começou a tremer e as lágrimas a escorrer alagando bruscamente meus olhos era preciso fazer alguma coisa!!!!! Eu não admitiria NUNCA admitir mas eu estava em PÂNICO! Me perdoa meu amor! Minha cabeça só me permitia um comando: te tirar dali e precisava ser com minhas próprias mãos eu tentei tentei tentei com toda minha força eu sempre ODIEI isso em você por que tão maior que eu? Você gostava de falar de mim mas nunca me achei pequena demais.... você sim você sim grande demais! Grande demais pra mim naquele dia eu percebi você não coube nos meus braços não coube na minha força não coube no meu desespero. Desculpe por não ter gritado por não ter pegado o telefone e feito uma ligação. Talvez desse tempo, mas não conseguia pensar em mais de uma coisa. Devia talvez ter escolhido me deitar ao seu lado e ter te acompanhado naquele momento mas nem isso eu fiz talvez nem te levantar eu tenha tentado talvez meu esforço todo tenha sido para me manter apoiada sobre meus pés e pra conseguir te enxergar eu precisava disso pra obedecer meu comando e isso talvez de salvasse.

Hoje se alguém quiser me encontrar vai me ver deitada ali, no último lugar que você esteve. Não cozinho mais, só preparo o café, as vezes. Meu corpo está tomado por uma pele morta. Meu coração bate devagar. O Diogo me conta histórias bonitas, com alguma esperança de que eu as escute. A Dominique me liga sempre pra eu lembrar de sua doçura mesmo estando longe. A Patrícia tenta me alimentar e o Caio vem cotidianamente e se senta do meu lado. Ele já sabe quando é o dia que é possível fazer alguma coisa, as vezes não fala nem oi, mas fica sentado ali, sentado.

um dia depois

Meu amor, eu precisei partir. Não me perdoe, eu te permito me arrancar pedaços e guardá-los só para você. me ame mesmo assim. Chore durante uma hora no chão da nossa sala. Mande quantas mensagens quiser, eu vou ler. Telefone, escreva 20.000 cartas. Rasque as fotos e se arrependa. Diga para as minhas roupas molhadas(que eu esqueci no varal) que me ama. Pare de cozinhar e faça apenas café. Desligue a tv. Esqueça o dia do seu aniversário.
Volte a fumar e pare de beber. Tome banhos mais demorados de água fria.

e depois de 2 semanas me esqueça e lembre de uma felicidade que você não sabe de onde veio. Quem sabe eu não volte um dia, aí nós vamos nos apresentar, jantaremos juntos um dia, eu vou dormir na sua casa, depois passarei a ir lá diariamente. Eu vou esperar 6 meses para ouvi-lo dizer eu te amo, quando eu já vou estar partindo indo embora com meus pés para um lugar novo onde a memória me fará mais feliz.

Fragmentos de uma dor contínua com pequenas pausas de raros minutos

O calor ficou insuportável. Tornamos a vestir os maiôs e atravessamos a praia correndo. Direto para o mar. Ginetta nadou para longe. Fiquei no raso.
O Libeccio cessou. Ou então foi outro dia sem vento.

Ou então era outro ano. Outro verão. Outro dia sem vento.

O mar estava azul, ali, aos nossos olhos, sem ondas, apenas um barulho extremamente suave, murmúrio de respiração em sono profundo. Os outros pararam de jogar e sentaram nas toalhas, sobre a areia. Ele se levantou e caminhou para o mar. Vim para perto da praia. Olhei para ele. Ele notou. Piscou os olhos por detrás dos óculos, sorrindo para mim, sacudindo a cabeça em pequenos movimentos, como se estivesse zombando. Eu sabia, sabia que em todas as horas, em todos os dias, eu não parava de pensar: "Ele não morreu no campo de concentração."

Fragmento do livro A Dor, de Marguerite Duras

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Eu vou evitar falar , algumas coisas precisam ser escutadas. Por favor, quando eu te calar com minha mão direita , tente arrancar um pedaço de mim.
A gente fica tão distante , e é sempre isso: Você quer ouvir minha voz. Ela tá rouca , to com aamidalite. Presta atenção! Não .. não presta. Você , eu , isso entre a gente ... .Isso serve para quê ? Serve para uma estante de troféus , medalhas de exibição ,livros , um quadro pintado , três porta-retratos, gordura no teto da cozinha, preguiça e um peixe morto . Aí não há eixo aí . Ai ... ai ... ai ... ai ... ai .. ai ... ai ... ai .... ai.. aii ...aiiii ...aaaaaai ....aai ...aiiiiiiiiiii....ai ...ai ...ai aiaiaiaiaia... ai .. ai .. ai ... Não presta. Me empresta seu ar de novo . Me empresta aquela euforia que eu tinha quando te conheci. Me empresta a vontade de te fazer gozar , de coser meu corpo no seu ,de ser gozo. Me dá um pouco dessa vontade de me bater , de me arrancar a boca , de dançar calado . Me dá ! Me dá você sem pedaços , sem nada disso podre, me dê você depois daquela manhã que você se acordou e se sentiu sem nada , ou com tudo. Me empresta isso de ficar calada , ouvindo meus riso. Eu to indo à pé até seu queixo dizer que eu te amo , mas terei que partir.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mandaram eu me expor...

E-mail "engraçadinho" pedindo para que a reunião começasse na hora:

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amados,


assim... da última vez q o caio estava organizando uma festa nos tinhamos uma

reunião no dia seguinte as 17h e ele só chegou bem depois.

então pensando que eu terei q ficar vagando por copa durante 2 horas até a hora da reunião

sem garantias de que a reunião começarà as 16h...

(podendo estar no recreio dos bandeirantes curtindo um dia lindo de sol com o meu sobrinho...)
é claro q isso não é nenhum grande sacrifício,

mas eu gostaria que as coisas fossem bem "certinhas" pq estou nessa vibe.hahaha


beijo
paty
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Depois da reunião (que começou com 50 minutos de atraso), lista das coisas que eu preciso fazer (segundo meus parceiros de piolhenta da ordem dos super conselhos):

- me expor...
- procurar um terapeuta...
- caminhar na praia... (gente eu faço isso praticamente todo dia!)
- ler todos os posts do blog...
- levar isso pra cena...
- não subestimar a platéia...

Coisas que eu tenho que fazer (da minha ordem):

- não debochar dos posts dos coleguinhas poéticos abstratos pseudo-dadaístas...
- não implicar com posts contendo erros gramaticais (ahh não, essa é do diogo)...
- tolerar os atrasos (e chegar atrasada)...
- não questionar o papel do artista nas próximas reuniões...
- me posicionar na frente do vídeo quando eu for iniciar a minha narrativa...
- andar com mais dinheiro no bolso para poder dividir a pizza irmãmente...
- não duvidar do contador de acessos do blog (pq eu descobri que ele é feito por IP)...
- não fazer aquilo que eu fiz duas vezes e disse que ia parar de fazer...
- não racionalizar os movimentos (eu não sei se ficou claro na reunião, mas eu não acho que tudo precise de um significado)...
- arrumar minhas malas e pegar o primeiro avião com destino a felicidade...
a feli cidade...
pra mim
é
você....
 
pense
em
mim.... CHORE por mim...
 
liga pra mim...
 




Viva a arte!
 
 






"Toda arte é inútil." - Oscar Wilde
 
 
 
 
 
 
 
tão lendo tudo...???
 
 
 
 
 
 
 
 
 
hahahaha...
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
...
 
 
 
 
 


 
 
tem que ler hein...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
bullshit!
 
 
 
 
 
 
 
parei de implicar!
beijo, amo vocês meus pensadores.

Guillermina e Belinda

Então amado(s)...

Pensando nas referências para nosso trabalho em Violenta.
Quero dividir com vocês uma foto de uma artista que o Caio me fez descobrir em Buenos Aires.

Ps.: Entrem no site, é um trabalho lindo, to toda arrepiada! http://alessandrasanguinetti.com/
O set "On the sixth day" me violenta. 
Deus criou o homem e os animais no sexto dia  (pra quem não tem referência católica) - fica a dica! 

Vejo vocês na reunião! Estou levando o livro com as fotos.

Beijos,
Paty
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"Guillermina e Belinda são primas e moram no campo, próximo a Buenos Aires.  A fotógrafa americana Alessandra Sanguinetti, com muita delicadeza, fotografou as meninas em diversas situações e o resultado é o lindíssimo livro ” Las Aventuras de Guille y Belinda y el enigmático significado de sus sueños”. As fotos mostram um olhar feminino para o turbulento período da adolescência, suas inseguranças, medos, delírios e desejos. E revela o lado doce de duas meninas em um dia de Alice no País das Maravilhas. As fotos são pura poesia. "




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

SE.

se. acordo sem mais um pedaço é porque ele, na verdade, não me faz falta. se. acordo sem mais um pedaço é porque dele gosto ou quero sentir saudades. se. acordo sem mais um pedaço é sinal de que as coisas estão realmente acabando. se. acordo sem mais um pedaço é sinal de que toda perda é um recomeço. se. acordo sem mais um pedaço me sinto vazia, apática. se. acordo sem mais um pedaço é porque tenho espaço para outros se aglutinarem. se. acordo sem mais um pedaço e perco a cabeça. se. acordo sem mais um pedaço e por isso me centro e me pesquiso. se. acordo sem mais um pedaço é porque ligo o som nas alturas. se. acordo sem mais um pedaço é porque da minha raiva alguém criou o silêncio. se. acordo sem mais um pedaço perco a cor, perco o tom maior. se. acordo sem mais um pedaço tudo em mim se pinta, transborda de verde. se. acordo sem mais um pedaço peço a ele que volte, que contorne o carro, fico sem graça. se. acordo sem mais um pedaço vou embora sem ele, subo as escadas, fico esbaforido. se. acordo sem mais um pedaço tenho dúvidas sobre minha sexualidade. se. acordo sem mais um pedaço vejo aquilo que me prendia em um corpo de mulher, talvez, ir embora. dou descarga. se. acordo sem mais um pedaço aproveito para olhar o céu, lembrar da infância e de quando, supostamente, nos sentíamos completos. se. acordo sem mais um pedaço não me deixo esquecer do peso que o tempo exerce sobre os meus ombros, não esqueço o calor e nem a dor dos argentinos em crise. se. acordo sem mais um pedaço vou a procura da rua, encontro com qualquer um e beijo-lhe a boca com tesão. se. acordo sem mais um pedaço bato na porta da vizinha, sou o pai de seus filhos e patrão de sua nova empregada. se. acordo sem mais um pedaço interrogo Deus e as flores. se. acordo sem mais um pedaço sou filho do Diabo, amante de Madalena, inimigo de Cristo. se. acordo sem mais um pedaço fico perdido na quantidade de elementos que listei, tentando aqui justificar o desmembramento de meu próprio corpo, minha razão e criatividade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

por ontem

          
Pouco, não podemos ser pacientes. Mais um amor meu: Nada, não?! Tente. Podemos fazer. Um pouco mais, nos engolir, vai ela sempre.

Hoje mais um pedaço sem casa. Acordei sem, se ganhou uma marca, a nova?

Não. Fique. E bravo mesmo, assim, ame Isadora.

ass. Me.