segunda-feira, 26 de abril de 2010

de uma vó para um neto sobre algo imaginário




Vovó Mariana, 84 anos
5 filhos 13 netos, 5 bisnetos, uma granja, um amor maior que o mundo, 4 paredes e um rato que nunca existiu.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Elefante

por Carlos Drummond de Andrade.

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual muito desmontado.
Amanhã recomeço.

registro de um domingo sem documentos

sunday b. sunday

mas inda sim cheio de palavras. ele pegou a caneta. não. não foi o teclado. foi a caneta. ele a pegou. meio que se olharam. de lado, sempre de lado. viram um no outro aquilo que potente ainda eram incapazes de descrever. ela não tinha palavras para ele, ele não saberia as dizer. nem pela boca nem pelo gesto nem pelo toque. olharam-se demoradamente. avaliavam no outro o destino de suas sortes. e ai, perceberam. que a falta do nome os arruinaria. não saberiam ser em ponto final. não saberiam. optaram, naquele dia, porém, por brincarem de ser em ponto. ser sem sequência. de ser apenas brincaram. e desde então se perderam. um do outro. um no outro. e agora o tempo enovela os segundos. e soa como tiro o bater das horas.

Só mais um perdido.

quando tudo perder o sentido
não me dê um dicionário
mas sim um beijo.
pode ser?

Pedido de culpas.

alguém me dá uma culpa?
me sinto tão livre e possível que meu chão se afastou de mim
e agora fico aéreo, achando ser divino
quando na verdade
o que sou é sozinho.

terça-feira, 20 de abril de 2010

registro de um domingo sem documentos



e ele foi saindo assim, de fininho, deixando ela ali, sozinha, sem saber quem viria resgatá-la, se alguém viria. Sem saber se ela seria sequestrada depois, estuprada, sem saber seu nome daqui a 2 horas, sem lembrar seu cheiro, sem dar um último beijo, sem dar um último abraço, sem amor, sem sexo, sem ódio, sem cor.

Ele apenas mexeu um pouco nela, depois a deixou ali, como foi mais confortável.

limpou as mãos.

Ela ficou porque na verdade a paisagem lhe parecia muito mais bonita do que tudo aquilo que tinha vivido.

Só mais um pedido.

Por favor, a gente pode comprar um elefante?
O coelho ainda me faz muita falta. mesmo.

Pedido de desculpas.

Queridos meus, por favor, desculpem-me.
É que não sei mais como dizer o que sinto.
É que, por agora, ainda não tem nome o que cresce em mim.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Do verbo latejar

Estou a latejar. Que bom! É um sinal. Latejar é algo para o bem ou para o mal? Quer dizer que vivos estamos. Mesmo que assim latejando, incompletos, cortados, talhados, (re)costurados ... Ninguém me disse que seria fácil carregar os tijolos. Mas é agora? As paredes estão ai. Frente à nós mesmos. Em pé, seguradas por algo que não só cimento e tijolos, porém prestes a queda se dar. Hum... Eu diria, assim parada e calada, tudo que necessito. No máximo, usaria onomatopeias. Mas, isso foi em outro tempo. Me enganei. Vi que preciso cuidar da casa, e dela, e dele e dele e dela... Mesmo que distante ela precisa ser cuidada. A casa de praia sempre foi um lugar de descanso, pois sozinha,agora, a torna depressiva. Não precisava partir sem nós. Preciso pegá-lo no colo, balança-lo em seu excesso de leituras e tirar, um pouco, seus pés do chão. Seria necessário falar de amor com ela, pela quinquagésima vez, e ver seus olhos de menina crescida chorando novamente. Para ele, que assim, tão lindo, leve e solto. Só abraços, inquietações e o sorriso mais sincero. Estamos construindo paredes. Isso é a nossa casa. Me peguem no colo.

Eu latejo
Tu latejas
Ele Lateja
Nós Latejamos
Vós Latejais
Eles Latejam

Tu choro
Ele abraço
Eu soco
Nós violência
Vós tijolos
Eles paredes

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Identidade e cpf e cep

Isadora Malta está latejando moças, meninas e crianças, está latejando o outro, ele, eu(mesma), você e todos nós que nós conhecemos. Está latejando arrebatamentos, expectativas, quebras de. As palavras, os abraços partidos, os cheios, os completos, os negados, os ainda não dados. Está latejando os amores. Está latejando os encontros riscados na agenda. Está latejando a paisagem que ficou mais feia, está latejando 2 lutos. Está latejando a incompletude. A espera. Está latejando um amanhã. Está latejando textos. Está latejando o melhor de concreto que ela tem agora(mas não vai falar o que é pra guardar bem guardado). Está latejando o que não foi guardado nos eu devido lugar. Um café, uma cafeteira. Latejando o que ficou guardado. O que é absurdo. Está latejando a dor. Uma memória impossível de tocar. Está latejando uma boa alimentação. está latejando prazeres óbvios e a incompreensão. A falta de álcool e de loucurinhas. Está latejando um sentimento chamado pena. Está latejando músicas. Violinos e peças de teatro. Filmes e cinemas. Bar. café da manhã almoço lanche e jantar. Está latejando carnaval e páscoa. Está latejando esse blog, está latejando muitos outros lugares, ideias e possibilidades. Está latejando vontade. Vontades. Não poder. Está latejando uma Paisagemq ue ficou feia. está latejando queijo, café e chocolate. Vinho e cerveja. Uma caipirinha. Uma droga. Está latejando paz. Angústias acabadas. Terapia. Está latejando esperanças. Está latejando pulsões e impulsos.

O dia em que a saudade retorceu o coração e nenhuma memória foi agarrada

O olhar ficou mais feio de sexta pra hoje. ESTOU EM PÂNICO.

estou em pânico com isso, como assim!? A paisagem que olhei hoje é a mesma que olho a 20 anos, não é possível!!

Cheguei, parei e observei como de costume, e a paisagem realmente estava mais feia, muito mais. Nos últimos 5 meses, apesar de tudo, ela estava muito muito mais bonita, de uma maneira que nunca tinha visto antes. E isso era o melhor de tudo!! Estar diferente...

Mas agora ela está FEIA! Meu Deus, ela está igual como era antes. Só que agora além de ser cotidiana ainda é feia porque tinha me acostumado com a beleza.

Juro, estou com medo, preciso de uma mão pra segurar pra conseguir passar de novo por ali.

que horror!

Ela está horrível. Essa situação é horrorosa. Espero que seja necessário, espero mesmo. Se não tiver nenhum sentido e não vier nada depois não sei, sou capaz de me suicidar!

sobre a saudade que RETORCE o coração...nem adianta seguir que você não vai encontrar mais nada.

sobre a cafeteira...

EU ENTENDI,

ENTENDI AGORA QUE TINHA QUE ME RESPONSABILIZAR PELA CAFETEIRA PRA ME APROPRIAR DO NOSSO CAFÉ, PRA FAZER USO DE UMA CAFETEIRA QUE NO CASO NÃO É SÓ MINHA: É SUA, MINHA E DE TODOS NÓS.

DIVIDINDO O MESMO ESPAÇO QUE NOS DEGLADIAMOS TODOS OS DIAS.

difícil esse trabalho de nos fazer caber nele junto com a cafeteira. Desculpe se pra mim as coisas as vezes são um pouco mais difíceis. Você escolheu ter paciência e eu quase nem dei bola, mas agora entendi! ENTENDI!
vou me esforçar e fazer um café pra gente de manhã melhor do que o que fiz agora.

obrigada, Isadora

A Bracher minha de cada dia.

A ideia de violência, de se sentir abandonado, ou de se sentir muito apaixonado, tudo isso está relacionado com amor. Amor no sentido de tudo: erótico, amor ao próximo, como se tudo de bom e de ruim que unisse dois seres humanos se pudesse chamar de amor.

Beatriz Bracher - entrevista para a Revista Cult.

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-beatriz-bracher/

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Para Isadora Malta.

Diogo – Gente, ela deve estar bolada…

Diogo – Gente, quem não está? É essa chuva que não pára…

Diogo – Não. Eu não falei em relação a isso…

Diogo – Em relação a quê, então?

DIogo – Você sabe.

Diogo – Sei?

Diogo – Sabe.

Diogo – Sei.

Diogo – Não acha que é o suficiente para ficar bolado?

Diogo – Olha, sinceramente. Você não percebe as coisas do jeito que elas se mostram na realidade.

Diogo – Ah, não?

Diogo – Não. Sinceramente. De verdade. Cadê o problema?

Diogo – Você não vê? É uma questão de ser ofensivo. De ser grosso. Sei lá.

Diogo – Ah, por favor. Não tem nada. Pára de achar problema onde não tem.

Diogo – Mas o que você disse…

Diogo – O que nós dissemos. Nós.

Diogo – Sim. Isso. Aquilo, eu quero dizer. Eu achei pesado. Vamos apagar?

Diogo – Não.

Diogo – Vamos?

Diogo – Não.

Diogo – Por quê?

Diogo – Porque o que escrevemos só assegura o quanto ela está certa. O quanto estamos enrolados.

Diogo – Como é?

Diogo – O que ela escreveu… É o retrato fiel de nós dois nesse exato momento.

Diogo – Espera um instante…

Diogo – Não. É sério. Olha… A gente tá perdido. Completamente perdido. Foi isso o que ela quis dizer com tudo aquilo. Ela quis dizer, ou pelo menos foi o que me pareceu, que somos isso ai. Isso aqui. Enfim… Entende?

Diogo – Sinceramente não. Tá me parecendo que você quer se desculpar e não tem coragem.

Diogo – Não é questão de desculpa. Olha… Uma vez um amigo me disse que o papel do amigo é dizer as verdades.

Diogo – Mas quem determina o que é verdade ou não?

Diogo – Calma. Eu quero dizer. A gente disse o que naquele momento fazia sentido para os dois. Se estamos certos ou errados não importa. Importa que fomos sinceros.

Diogo – Eu não sei…

Diogo – Você não foi sincera?

Diogo – Fui. Eu fui. Fui sim.

Diogo – Então pronto. O objetivo não era magoar. Sinceramente, se eu não puder dizer certas coisas dentro de casa é melhor que então eu saia.

Diogo – Você é irredutível, sabia?

Diogo – …

Diogo – O que foi agora?

Diogo – Não. Eu não estou magoado. Estou só pensando.

Diogo – E precisa fazer essa cara?

Diogo – Desculpa. Eu estava pensando.

Diogo – Pensando em quê?

Diogo – Que eu sou mesmo um pouco irredutível…

Diogo – Ah, só um pouco?

Diogo – Alguma coisa. Não importa.

Diogo – O que foi?

Diogo – O quê?

Diogo – O que foi, que agora você tá com essa cara?

Diogo – Ah… Você sabe… São coisas do amor. De quem ama. Quer dizer, de quem está amando. Você sabe.

Diogo – Não, eu não sei. Me diz você.

Diogo – Eu tô bem, relaxa… É só que não dá para ter tudo, não é verdade?

Diogo – Sim. É a pura verdade. Você só precisa exorcizar isso aí no seu peito.

Diogo – Isso o quê?

Diogo – Não sei. Esse buraco, talvez. Isto. É isso. Você precisa cantar pra subir.

Diogo – Quem falou que eu precisava saber da cor preferida? Saber antes de tantas coisas que agora eu sei? Quem falou que eu precisava desde já ter dividido tanta confidência, tanta coisa, tanta crise, tanto problema, tantos casamentos passados, tantos beijos, corpos frequentados, quem falou? Por quê?

Diogo – Você já está flechado, querido.

Diogo – Não quero.

Diogo – Já foi-se.

Diogo – Não quero. Não quero! NÃO QUERO!

Diogo – Quer sim. Você sabe. Não me retruque.

Diogo – O tempo esteve fora do nosso esquema, foi isso.

Diogo – O quê?

Diogo – O tempo esteve fora do nosso esquema. O tempo não funcionou entre a gente. Funcionou com todo mundo, menos com a gente. Nossos beijos se mediram em outra medida, os passos foram contados de outra forma, os sorrisos inauguraram outra forma de dizer felicidade. E agora, eu sinto, eu sei, eu acho, eu sinto, eu sei… Adeus.

Diogo – Nossa. Você fica incompreensível quando está assim…

Diogo – Assim como?

Diogo – Você sabe?

Diogo – Sei?

Diogo – Sim.

Diogo – Sei. E o que importa? Isso não resolve porra nenhuma. A culpa foi minha. Eu quem pedi, naquele dia, fui eu, eu disse, me conta tudo o que você tá sentindo nesse momento. Eu nem perguntei. Eu falei com ponto final.

Diogo – E o que ele disse?

Diogo – Ele… Bom. Ele… Ele disse como ele já era. Disse como já funcionava. Ele disse o que nele já tinha se estabelecido. Ele olhou para mim e eu não disse nada. Fiquei feito pedra no sol, latejando sem sair do lugar. Eu disse, dias depois, eu demorei dias para voltar a funcionar, eu disse, dias depois, eu disse que eu estava ali, com ele, para me desarfirmar para me revelar o eu que eu não sei para gostar das coisas que eu julgava não gostar eu disse que estava de mãos dadas ali cruzando com ele a avenida porque eu queria correr o risco de desmaiar sob o sol e ser socorrido que eu estava testando até onde eu não havia ido que eu estava mudando que eu estava me alterando é isso que eu estava mudando assim quero dizer que ele na minha vida não era mais a minha vida apenas que eu precisava me afetar que era importante…

Diogo – E ele?

Diogo – Bom… Hoje, eu sinto, eu sei, eu acho, eu sei, bom, ele ficou com as portas fechadas. Ele gosta das coisas que eu falo ou escrevo ou melhor que eu falo, mas isso já não significa nada porque a noção de outro para ele se resume a ele mesmo.

Diogo – Caramba. E você?

Diogo – E eu? Eu não conto, né? Eu sobro. Eu, aliás, eu sobrei porque mais uma vez eu acreditei que podia ser humano, sabe? Ser sincero. Sentir dor e dizer, nossa, tá doendo. Eu sobrei porque eu fiz poesia quando na verdade o mundo queria algo mais concreto. Eu sobrei porque eu me permiti ficar quieto olhando apenas. Eu sobrei porque eu pensei, lá nos nossos começos, eu pensei meu deus, eu vou sobrar nessa história. Mas… AUSHUhsuahushushusahuahUHSu… Eu tenho meus amigos, ainda. Eu acho, eu sinto, eu sei.

Diogo – Você tem. Você tem. É claro que você tem.

Diogo – Tenho né?

Diogo – Olha pra mim.

Diogo – Que foi?

Diogo – Não fala nada. Olha. Apenas.

Diogo – …

Diogo – Isso. Você vê?

Diogo – Eu…

Diogo – Não fala. Escuta. Olha. Vê?

Diogo – …

Diogo – Acha você aqui dentro dos meus olhos. Acha.

Diogo – . . .

Diogo – Isso. Eu tô me vendo em você. Agora diz, agora pode dizer, você se vê aqui em mim?

Diogo – Aham.

Diogo – Viu, pequena? Você é minha. Já é meu corpo. É minha rima, faz parte do dia, da agenda, do transtorno. Não há possibilidade de escapar. Nem morrendo, acredite. Você tá frisada. Tá marcada. Sim, é clichê, mas feito tatuagem.

Diogo – E o que isso pressupõe?

Diogo – Que você está tão certa quanto um e um são um.

Diogo – Como?

Diogo – Um e um são um.

Diogo – Não!

Diogo – Sim!

Diogo – Não! Não pode ser!

Diogo – Pode sim! 1 e 1 são 1.

Diogo – Você me deixa triste, às vezes.

Diogo – É que hoje tá chovendo e…

Diogo – E o quê?

Diogo – Me deu vontade de ver ela. Abraçar forte. Chorar junto.

Diogo – Ai, que horror.

Diogo – Sim. O horror faz parte desse mundo. Quero mil cafés ao lado dela e ouvir tudo. Sem pressa. Sem freio. Purgar a dor e fazer a vida de novo virar recreio. Será que ela vai topar?

Diogo – É claro que vai.

Diogo – Convida ela então.

Diogo – Vou convidar.

Diogo – Mas não para falar de coelhos, certo?

Diogo – Não. Apenas para falar dos que ainda estão por cair.

Diogo – Ok. Se for assim, pode. Eu deixo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O PEITO DO PÉ DO PEDRO É PRETO

 

Dominique – Ai, Isa, por favor…

Diogo – Eu estava pensando o mesmo.

Dominique – Ah, gente. Por favor, né? Olha o que ela escreveu…

Diogo – Gente! Gente…

Dominique – Que foi? Achou muito ruim?

Diogo – Achei esquisito.

Dominique – Então dá a sua opinião, ué. Ela precisa saber. Eu preciso saber. Nós precisamos.

Diogo – Olha, acho que não dá para falar da casa com uma taça de vinho na mão.

Dominique – Tudo bem, acabei de apoiar sobre a mesa. Diz. Quer dizer. Digo: acho que a gente voltou naquela coisa que a outra tinha reclamado naquele dia. Não faz sentido escrever estou mordendo as prateleiras. Não foi isso?

Diogo – Foi. Disse isso e agora parte como se não tivesse seus objetos em cima das prateleiras.

Dominique – Que bom que você puxou o assunto. A vontade que eu tenho é de puxar os cabelos. Dela, no caso. Os seus estão tranquilos. Aliás. Alguma coisa mudou na sua cara. O que foi?

Diogo – Fiz a barba. Depois de não ser reconhecido pela familia.

Dominique – Até parece. Bom. De qualquer forma. Ela se foi. Eu não vou ficar implicando com você. Apenas. Precisamos conseguir alguém para suprir a falta dela? É falta? É o quê?

Diogo – Não sei. Não quero suprir.

Dominique – Facilita, por favor. Temos que suprir. Caso não. A gente vai acabar se batendo.

Diogo – Somos só nós agora né? Quem vai sobrar de nós dois?

Dominique – É verdade. Ninguém para romper nosso abraço. Eu não quero.

Diogo – Me abraçar?

Dominique – Enche a minha taça, por favor.

Diogo – Encho.

Dominique – Então enche.

Diogo – Espere.

Dominique – Está na sua frente, Dodô. Enche a minha taça.

Diogo – Di, espere eu acabar. Enchemos juntos.

Dominique – Ok. Vou beber o que resta da minha agora. Em homenagem a mim mesmo.

Diogo – Pensei que estivessemos bebendo a saudade.

Dominique – Não. Estamos bebendo SANTA CAROLINA – Cabernet Sauvignon.

Diogo – É gostoso.

Dominique – Melhor do que restar sozinho no meio da sala de casa.

Diogo – Mas eu estou aqui.

Dominique – Sim. Melhor, eu disse. (Após engolir várias vezes a saliva). Você acha que devemos expor o que estamos fazendo?

Diogo – O quê? Isso de fingirmos?

Dominique – Exato. Não fale ainda. Me diga antes se acha que devemos dizer ou se podemos seguir o restante dos dias guardando em nós este segredo?

Diogo – Faz quanto tempo que guardamos isso tudo?

Dominique – Desde quando começamos a escrever esta postagem no meu computador.

Diogo – Ah sim! Pensei que falávamos de outros fingimentos.

Dominique – Eu não quero… Obrigado pelo vinho. Eu não quero falar dos outros. Já estou bem saciado com estes.

Diogo – Falava de nós.

Dominique – Nossa. Você às vezes é tão direta que assusta. Pois bem. (Respira fundo). Eu não me considero um fingimento. Você se considera?

Diogo – Não. Mas achei que você tivesse falado algo assim : “Não sei porque não disse de uma vez…”

Dominique – Não entendi. De qualquer forma. Há coisas que eu queria ter contado a minha mãe que acabei não contando.

Diogo – Sempre existem coisas. Eu por exemplo não contei que fui ao cinema enquanto chovia.

Dominique – Eu não contei que era gay. Olha que pesado.

Diogo – Nossa, você me assusta. Acho que o “direto” é você.

Dominique – Enfim… Adoraria que minha mãe entrasse aqui e lesse tudo. O problema é que eu não sei se ela entenderia. Entende? Não sei se fingiria não ter entendido. Mas sabe? É como dizia aquela personagem: “Foda-se”…

Diogo – É. Digo, entendo. Eu te entendo. Ah, foda-se! Fala o que quiser.

Dominique – Chega desse papo. Vamos terminar o vinho. Postar a postagem. Ouvir música. Fazer café. Comer chocolate. Dormir. Acordar. E continuar tendo a sensação de que estamos vivos.

Diogo – Se você realmente me fosse, você diria : “ vamos começar o vinho. Ouvir a postagem. Ler a música. Trazer café. Beber chocolate. Acordar. Dormir.” E escrever tudo errado. Mas, enfim. Vamos.

Dominique – Então, let’s vamos. C’est possible?

Diogo – Je suis desolée! Sempre falo isso, mas não me lembro o que significa.

Dominique – Não tem que se desculpar. Escreva apenas sim. Em caixa alta. E em negrito.

Diogo – VAMOS.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Antes de você ir embora:

eu estava fumando um cigarro. lento, ele passou pela porta e entrou no quarto. eu não vi. andou como um ator que já está farto de representar. sentou-se ao meu lado. acescendeu também o seu cigarro. ficamos os dois ali, fumando em silêncio.

antes de você ir embora eu queria pedir para que você ficasse. mas não. eu sei como essa nova fase vai ser boa para você. antes de você ir embora eu queria lhe dizer que todos os momentos que passamos juntos foram incríveis e que, TALVEZ, eu até lhe entenda um dia por ter deixado o coelho cair. antes de você ir embora eu queria saber se posso ficar com os livros que sublinhamos juntos e também com algumas fotos que fizemos. antes de você ir embora eu queria um último beijo, uma última trepada e acho que até uma última briga. antes de você ir embora eu queria lhe dizer que todas as minhas tentivas de lhe esquecer foram em vão. antes de você ir embora eu queria que você soubesse que quero ver sempre as suas estréias. que eu te acho lindo no palco e que você é a minha justificativa para existência do teatro. antes de você ir embora eu queria dizer que quando disse que você não estava bem no papel Jazão eu menti. implicância boba. coisa de quem ama muito. você estava lindo, a peça era sua. a crítica lhe disse isso. eu sei. ou você não lembra que fui eu quem comprou o jornal e o deixou na cama com flores e um suco de laranja? antes de você ir embora eu queria ter a certeza de que Belo Horizonte é logo ali e que vamos poder nos falar sempre por email. por sms. por carta. por telefone. por telepatia. antes de você ir embora eu queria ter a certeza de que lá você não encontrará um novo amor, que não vai abandonar nossa casa e vai levar na mala um porta-retrato com a foto de nossa pequena família. antes de você ir embora eu queria lhe dizer que o seu espaço vai estar sempre aqui, como você vai deixá-lo.

apagamos os cigarros. nos levantamos. com a chave do carro nas mãos descemos. elevador. chuva. trânsito. aeroporto. avião. viagem. para você todo o afeto que construimos.

para isadora.

apropriação de olhos? Servem pra ser olhados.
DON’T TELL ME

NAQUELE DIA VOCÊ ME TROUXE ATÉ AQUI EM CASA. VOCÊ AINDA SE LEMBRA? Lembro. Essas coisas a gente nunca esquece. EU SEI QUE VOCÊ ADORA DIZER O CONTRÁRIO, MAS VOCÊ ME DEU AQUELE BEIJO QUERENDO QUE EU FICASSE APAIXONADA POR VOCÊ... Eu te beijei porque eu gostava de você... Só isso. AH, GOSTAVA... JÁ ENTENDI TUDO... Você quer o quê?! Que eu finja que nada mudou depois de tudo? SABE DE UMA COISA?! VOCÊ APARECEU NA MINHA VIDA JUSTAMENTE NO MOMENTO EM QUE EU PERCEBI QUE NÃO DEVIA MAIS PERDER O RESTO DO AMOR QUE EU TINHA PRA DAR... PORQUE O AMOR É FEITO DE TROCAS! VOCÊ NÃO SABE, MAS ELE É FEITO DE TROCAS! NO FUNDO, EU SEMPRE ACHEI MUITO DIFÍCIL ACREDITAR EM VOCÊ. E mesmo assim, estamos aqui até hoje... Por acaso eu não te contei que... VOCÊ FALA ATÉ HOJE COMO SE ISSO FOSSE UM FARDO PRA VOCÊ! EU JÁ TE DISSE ISSO! EU NÃO SOU COMO A ÚLTIMA QUE VOCÊ SE ENVOLVEU! EU TÔ TE DIZENDO! EU NÃO COLOCO A MINHA VIDA NAS MÃOS DE QUEM NÃO MERECE... Sempre a mesma defesa... Você não muda nunca. Aposto que ainda tá pensando que eu vou te dar o mundo. E VOCÊ? PENSA QUE EU SOU COMO VOCÊ, QUE DEPOIS DE CHEGAR ATÉ ONDE CHEGOU, SÓ CONSEGUE SENTAR E CHORAR O FRACASSO QUE É? Não tente me dizer o que eu devo fazer! ENTÃO NÃO TENTE ME DIZER O QUE EU DEVO FALAR! PORRA, VOCÊ NÃO ERA ASSIM! Diferentemente de você, eu mudei. MUDOU PRA PIOR! PRA QUE ISSO?! Qual é o problema em mudar? Não dá pra ficar com alguém que sempre acha que tá certo. É MELHOR VOCÊ SAIR DA MINHA CASA. Tá vendo? Isso desanima qualquer um... É só começar a dizer umas verdades que você tranca a porta. Foda-se, também. Não pense que é charme meu, mas antes de ir, eu tenho que... CHARME?! Eu só quero minhas calças de volta! Onde é que elas estão? VOCÊ TÁ PEDINDO PRA EU TE CHUTAR DE UMA VEZ POR TODAS? É ISSO?! Eu tô pedindo as minhas calças de volta, só isso! SAI DAQUI AGORA! Você não quer é me esquecer, é isso... Só pode ser isso! Foi bom pra você, não é? Pode falar... Geralmente é muito bom, é daí pra cima... EU VOU PEDIR PRA VOCÊ PARAR COM ISSO. Eu?! Eu ainda pensei que gostava de você pra caralho! Mas que merda que eu fui arranjar! ARRANJAR? AI, MEU PAI! EU SOU UMA PESSOA ABORRECIDA NESSE MOMENTO! Devolve minhas calças! TÁ... ENTÃO A GENTE FAZ UM ACORDO. VOCÊ SAI DE CIMA DA MINHA CAMA! EM PRIMEIRO LUGAR! Foi isso o que eu disse... Até parece que eu nunca te contei que eu não sou daqueles que joga tudo pro alto! E VOCÊ PENSA QUE EU VOU TE TOLERAR? FALANDO COVARDIA SOBRE MIM?! VOCÊ É UM COVARDE! É ISSO O QUE VOCÊ É! Eu também não te contei?! Essa eu não devo ter contado, não... Sabe o que é: é que eu não faço as coisas pra depois ficar chorando pelos cantos! EU NÃO FAÇO! Eu não faço o que me dizem pra fazer! Tá me entendendo?! E eu não falo o que me dizem pra falar. Olha pra mim, eu tô falando com você! ENTÃO, EU REALMENTE ACHO QUE VOCÊ DEVIA IR EMBORA DAQUI! PORQUE VOCÊ É TÃO BOM, NÃO É MESMO? TÃO BOM! QUE DEVE SER AINDA MUITO MELHOR LONGE DE MIM! Essa sua culpa toda... Porque é culpa o que você tá sentindo... O nome dessa porra aí é culpa. Isso que você tá tentando jogar pra cima de mim não vai me deixar arrependido, não! Eu não fiz nada de errado. Porra! Você que foi embora. Você me deixou aqui! Eu sou palhaço, por acaso?! Eu tô de verde?! Não, porra! Eu tô falando com você! AI, MEU DEUS! ALGUÉM AJUDA! EU QUE FUI EMBORA?! EU?! FOI VOCÊ QUE FOI EMBORA... OU VOCÊ ACHA QUE AGIR DO JEITO QUE VOCÊ AGIU É FICAR DO MEU LADO, É SER MEU PARCEIRO?! VOCÊ ME DEIXOU. ABANDONADA. TAVA ESPERANDO UMA BRECHA PRA PULAR FORA! EU SEI, SEU COVARDE! EU SEI, COVARDE! AI, GENTE! EU DEVO TER CARA DE BOBA, SÓ PODE SER!... EU TENHO CARA DE BOBA? NÃO, ME DIZ! Escuta aqui... ESCUTA AQUI VOCÊ! EU QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE QUE QUALQUER PENSAMENTO SOBRE NÓS DOIS... SOBRE EU E VOCÊ, ACABOU DE SE PERDER. NESSE EXATO INSTANTE, NÃO EXISTE MAIS NÓS! NUNCA MAIS... Ótimo! Finalmente! Eu não posso acreditar nisso, caralho! Eu sou muito melhor com você fora do meu caminho! Fora daqui, sua porra! OLHA O QUE VOCÊ TÁ DIZENDO! VOCÊ TÁ NA MINHA CAMA, SEU ESCROTO! FORA DAQUI VOCÊ! FORA DAQUI, VOCÊ! AI, MEU DEUS! NA MINHA CAMA! NA MINHA CAMA! SEU COVARDE! SEU IMUNDO, SAI DAQUI!

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requiem.

<KENOX S630  / Samsung S630>

e ainda teve a coragem de me pedir desculpas. eu disse pelo o quê? ela disse: por não estar aqui com vocês em julho. eu fiquei quieto. mentira. eu falei qualquer coisa. mas a questão era outra. eu quero dizer. não se abandona a casa sem avisar com um mês de antecedência. a sensação é de que nada aconteceu. a sensação é de que apenas deu a louca e resolvemos passear no bosque. daqui a pouco, quando a ficha cair, a gente volta a se bater. e a testar, o quanto somos capazes. vamos, por agora, eu acho, eu sinto, eu sei, vamos, eu quero dizer, agir com naturalidade, com obviedade, com leveza, falsidade, ou seja, felicidade. tá tudo ótimo. bjo. me manda e-mail.

coisas

partimos de um espaço vazio, que bom, acho que fizemos bem assim, lembrando sempre da calma que precisamos para preenche-lo com nossos sentidos muitas vezes desencontrados. Calma para criar encontros possíveis, para assumir os fracassos dos impossíveis. Mas nos permitimos arriscar, com amor e garra, agora seguimos, antes que tudo acabe e não saibamos mais o que passou por nós. Vamos voltar aos objetos, a sala, a cozinha, ao quarto, ao banheiro. Ao banheiro sim. Antes que a chuva chegue.
Talvez esteja na hora de assumirmos a roupa suja, talvez embolada, as taxinhas que foram parar dentro do chá. O buraco no espaço deixado pelo coelho, o peixe que está se afogando no meio de tantos papéis e escritos que absorvem as lágrimas. A chuva. Ah, as fotos mofadas e furadas. Alguém tem fogo? Os chocolates e morangos largados pela sala e a cozinha esquecida. É. As coisas as vezes são assim, voltamos a elas. Vamos fazer um café e falar sobre isso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

olhos? Servem pra ser olhados

estou bem, mas tenho me sentido um pouco morta. Não dá pra ter tudo não é verdade!? Os coelhos são arrancados da gente e criam buracos, buracos são buracos, mas sabemos lidar com eles. Lidamos com doenças mais sérias, catástrofes, mortes, nascimentos. O coelho não está mais aqui. Achei violento, não queria usar essa palavra, mas foi uma forma de me permitir exorcizar o buraco, cantar pra subir, já dizia minha mãe. Mas avisei pra ela que verdades absolutas são mentiras. Quem falou que eu precisava saber sua cor preferida antes?
antes de que?
antes da responsabilidade?
deixa eu viver isso, você deixou e depois tirou de mim como se eu não fosse responsável pelas minhas escolhas e SE TE PERMITI DIVIDIR ELAS COMIGO você também passa a ser responsável por elas e por mim.
que irresponsabilidade a sua! Não deixar que o tempo me mostre que eu devia saber antes sua cor preferida?
você rompeu o tempo, rompeu com o ritmo que você mesmo estabeleceu com todas as suas crises e problemas maiores que nós e esqueceu de me avisar. Mais um combinado jogado pelo ralo.
tinha escolhido ser convencida pelo tempo. Mas você arrancou ele de mim antes. Nossa, já não foi fácil, e você ainda arranca de mim assim? Eu devia saber dessa possibilidade, mas é que ele era tão bonito, mas TÃO bonito que não pensei que alguém ia ter essa coragem.
coragem?
ela passou por nós? em qual momento? eu não vi!
me mostra? Por que você não deixa as coisas chegarem em mim? Tá com medo? Me fala, deixa ele chegar em mim, eu já não falei que não preciso saber antes sua cor preferida.

Já podemos falar sobre os coelhos.

Eu te falei aquele dia, que eu precisava que você me contasse tudo que você sentia que precisava me contar.

uhmmm...talvez você não ache isso tão necessário de se falar assim. Alguém já te falou que algumas decisões afetam os outros? Já ouviu falar sobre outros? Bom, pensa no número 2, agora pensa em pessoas, elas latejam, falam, escutam e querem ser escutadas, mas cada uma a sua maneira. Pra somar e virar 2 cada 1 precisa estar sensível para penetrar na maneira do outro. É as vezes não dá, mas aí vamos ver o que fazemos, já vamos ser 2 e 2 pensa melhor que 1.
não é verdade?

olhos? Servem pra ser olhados(antes de servirem para olhar)

relação pressupõe troca.

eu pressuponho você

1+1 pressupõe 2

outono pressupõe pétalas caídas ou inverno que pressupõe frio,

que me lembra que não quero passar frio sozinha, que me lembra que você talvez tenha se esquecido disso ou nem sabia, que pressupõe...

não sei, na verdade me falaram tudo isso. Me fala você?

aí talvez eu saiba.
Hoje choveu muito, queria ter sustentado alguma coisa na chuva, ia me sentir mais viva.

não me deixa morrer. não me esquece aqui entre todas essas verdades que o dia que você lembrar pode achar que tudo foi mentira e isso pode doer, depois não vai dizer que eu não avisei que seria melhor mexer com coisas concretas.

ações?

lembra de falar, lembra de ligar, de atender a ligação, lembra de tocar, lembra de olhar, lembra de rir, de chorar, lembra de mais coisas que se fazem pelo outro(preciso falar?), lembra das meninas, lembra de me lembrar que sabe que eu ainda vivo...

isso vai me permitir seguir seja lá com o que você colocar nas minhas mãos.

pelo menos não há mortes, só buracos, mas esses vamos colecionando por ai mesmo. Ah, ainda tem as decepções, pois é, essas se continuarem vão causar alguma consequência. Espero que não seja a morte também...

vou seguir e quem sabe um dia eu não volto vestida com sua cor preferida. Espero então que você não tenha esquecido de olhar pra você de volta, com o mesmo amor(desculpa por falar de amor) e a mesma sensibilidade que eu olhei seus olhos e portanto não tenha deixado de se permitir ou tenha acumulado decepções, nem com você mesmo nem com ninguém, se não corro o risco de te encontrar MORTO.

corro.

sobre frustrações? Não vamos falar delas agora, a morte que elas causam é mais súbita.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Arrebatamento ou Finitude. Irmãos do mesmo saco.

Quando penso no arrebatamento não gosto de pensar nas teorias religiosas que ele está inserido. Penso em sua consequência, no que ficou depois dele. No que ficou "depois que Ana me deixou". Eu quero falar sobre ele ou ela que agonizam, agora, a partidade alguém ou de algo. Mas o assunto também não é despedida. É muito maior, entende? Não tem desejos de sucesso, nem comunicação por mídias alternativas. Não tem como saber se depois o outro, o que partiu, esta bem nesse lugar obscuro que ele agora habita. O problema não é o ato da partida, mas sim o que ela ocasiona em quem fica. Em quem sofre a dor deste fim. Sim. A palavra em questão é FINITUDE. Se, tudo acaba mesmo um dia, como classificamos o espaço da memória, dos resíduos que ficam a latejar no corpo e na paisagem? Como classificamos o eterno relembrar, remoendo todo e qualquer tipo de questão que, hoje, já não faz o menor sentido. Quando penso no Arrebatamento, quero saber qual é o sentimento de ser arrebatado. Penso na visualidade, no sumiço, nas soluções cênicas para tal. Quando penso no Arrebatamento, penso em como dar continuidade as coisas sem aquela que me parecia principal. Penso em cores, muito movimento, seis atuantes e três histórias. "Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas para te dizer...". Mas o tempo também é finito e, por isso, não nos deixa dizer por completo o que desejamos, queremos e sentimos. Quando penso no Arrebatamento penso naquelas pessoas que morreram, mas foram eternizadas por seus acompanhantes. A casa ainda é de quem partiu. As escolhas ainda são divididas, de algum modo, com esse que se foi. Penso também na bailarina a ensaiar sua partitura, tentado chegar na perfeição e só atingí-la no momento de seu próprio Arrebatamento. Sua glória e sua decepção. Juntas. Penso também no mote: "o que te dói e o que te salva?". Penso na recosntrução de histórias a partir de fragmentos em discurso elaborado por diferentes pessoas que, consequentemente, apresentam diferentes visões sobre o mesmo tema, assunto, cor ou objeto. Penso na Bracher e em seu Antônio. Penso na "Sinuca de baixo d`água" que ainda nem terminei de ler. Mas também penso por isso. Penso na morte de Antônia relatada por Camilo, Polaco e Bernardo que não sabem lidar com a finitude, por exemplo, da vida. Mas também penso na criança que é arrebatada quando o tempo da mamadeira não se justifica mais. Depois que ele deixou o coelho cair na hora mais importante alguma coisa aconteceu. Alguém foi arrebatado nesse momento. A casa, as crianças e as estantes jamais serão as mesmas. Mas o que, de fato, foi arrebatado foi a relação que se criou em torno do coelho. As situações simples podem se transformar em situações limites de acordo com o valor e subjetividade que transferimos a elas? Não sei. Situações limites, o corpo esperando, agonizando e tudo partindo, indo pelos ares para nunca mais voltar. Ventania, tempestade, trovão. A natureza sendo arrebatada todo dia pelas ações do homem que ainda não consegue compreender as consequências de sua indiferença. Uma doença, um chocolate e até um abraço na hora errada. Tudo pode criar uma situação de arrebatamento. Só me resta saber como. COMO? como transformar em palavras e ação o que dentro de mim não se explica? o que dentro de mim se extende por todo o meu corpo. o que dentro de mim não lida bem com o fim. nem com o término de ciclos que eu gostaria que pudessem ser infinitos. O Arrebatamento - a obrigatoriedade de saber dizer tchau. ou a constatação da perda. ou a razão pela qual você se foi. ou a vida pode continuar. ou eu nunca mais voltarei a Londres. ou vou manter você vivo na nossa cama. ou o que virá depois. ou nada mais faz sentido depois que você se foi. ou o medo de abrir a porta. ou a dificuldade dançar sozinho. ou a janela aberta para você pular. ou mil pessoas partindo. ou o céu sem limites. ou a dor que agora sinto. ou a brevidade da vida. ou o vestido que nunca usei. ou NO DIA DO ARREBATAMENTO ESTE CORPO FICARÁ DESGOVERNADO.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

onde está o coelho agora?

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da ordem dos superconselhos: você precisa arrumar você mesmo para ter um quarto arrumado.

da dor de objeto

Sim, eu sei. Eu sou objeto. Eu sou, para você, objeto. Estou aqui, de lado, enfeitanto a casa, junto aos livros, e as fotos do coelho. É, você ainda não me explicou o sumisso inesperado dele. Mas sim, o objeto sou eu, assim como aquela sacola não abraçada, calada e cheia de saudades. Sim, eu sei. Mas eu não sei, porque assim, sendo seu objeto, pendurado como quadro, minha cabeça lateja. E faz tanto tempo que dói. Mas sim, eu sou assim. Isso não deveria doer. Eu não deveria dizer como isso entre nós deveria ser. Eu só estou pedindo um olhar. Não estou pedindo para você me ajeitar, acertar, aceitar. Eu estou tentando entender como eu, assim, na estante parado, pregado feito quadro torto, sinto isso que lateja todos os dias, aqui, em todos os lados. Eu sei. Quando o estomago vai mal a cabeça dói. É, sou um objeto com gastrite. Aí não tem jeito, dói lá e cá, de todos os lados. E vocÊ sabe, o estômago dói quando eu não consigo falar, chorar, gritar. É porque faz um tempo que você pensou ser, esse lugar, um defeito, e tampou com esparadrapo minha boca. Ficou melhor não é? Eu, assim sorrindo sempre que seus olhos passam por cima da estante. Ficou assim. Ah ! A dor... Esquece não tem problema. Ficou melhor assim. Você falando enquanto eu latejo.