terça-feira, 30 de novembro de 2010

Faxina e remédio.

Liguei o som para ver se nos movimentamos.
Coloquei aquele cd antigo.
Dizia " rir é o melhor remédio para acabar o tédio, é sensacional"
Recebi a notícia de que teriamos faxina na casa.
Será que faxina também acaba com o tédio? 
Pelo menos diminui a poeira e podemos nos enxergar com menos embaçamento.
Quem sabe trocar algumas palavras.
Seria bom.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

evacuação e sexo.

Talvez eu tenha pirado,
ou não saiba mesmo como dizer as coisas.

Talvez eu tenha me cansado,
ou não siaba mesmo mais acreditar.

Talvez eu tenha me enganado,
ou não saiba mesmo mais dançar.

Talvez eu tenha me sufocado,
ou não saiba mesmo mais respirar.

Talvez a gente fique sozinho, por aqui.
Ou não sabemos mesmo mais dizer que nos amamos.

ou talvez a razão disso tudo seja só o meu coração.
terra de malboro.

os homens que passam por mim, na rua, todos
são como falos ambulantes.

Onde se vive.

Se morre sentado no sofá acreditando no jornal nacional.
Ou você para de se preocupar com a sua felicidade e cria alguma existência nessas paredes ou a gente varre tudo e estende uma placa no quintal.

Não se pode acreditar na ausência.

daquilo que não fomos capazes,


não vou dizer mais nada. se quiserem minhas palavras, espremam meu corpo contra o bueiro e façam assim que eu produza linhas, versos. estou realmente cansado. passou o nosso tempo. percebem? ou isso também se tornou impossível?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

copo

falta de ar. É que não morrer, eu acho, a gente sabe quando as coisas vão acontecer, ou pelo menos aprendemos a saber delas. As coisas do mundo vão sim sendo entendidas por camadas do nosso pensamento. Precisava falar com você pra me acalmar naquela madrugada. Meu copo cheio, meu corpo no esforço da respiração pulsava. Meleca, cuspe, lágrimas, tudo junto depois que me fizeram me sentir em casa de novo. E pra isso, todo aquele aparato, já conhecido, remédios, cama, colo, telefonemas, lembretes para a casa, cuidados especiais. Especiais no pior sentido possível. Não queria ter que dizer isso, mas é o que acontece quando junta tudo de uma vez. E as camadas, os intervalos, as pausas. Elas são um problema quando deixam de ser escolha. Se chorei aquela madrugada meu amor foi por sentir que todas as escolhas naquele momento estavam escapando de mim, era uma espécie de prazo de validade. Isso cansa, estava só cansada e ouvir sua voz ainda era uma escolha pra mim naquele momento. Precisava que você me escutasse e respondesse por suas escolhas. É assim que as coisas funcionam, ou deveriam. O problema depois foi sua fuga de suas escolhas. Sim, suas sim, se são nossas então são suas também. Dá no mesmo. Mas sei que escolhas fogem do controle também e por isso não te julgo, só te culpo por não responder. Por silenciar a mudança, o susto, o impulso. Na verdade talvez uma atitude como essa nesse momento se torne imperdoável. É que a casa está vazia e não tem porque se perder, entrar pela porta errada. Pra mim está demais sustentar essas paredes e preciso de ajuda para minha saúde, meu tesão, meu tempo. me esforço para que nada saia do lugar nesse momento, pra saber que logo vamos ficar bem e bater as portas que quisermos, ara sermos minimamente livres entre tantas preocupações. A medida que o prazer aumenta a dor aumenta junto. É assim que é. Pra mim isso sempre ficou muito claro na tentativa de respirar minhas felicidades. Por isso talvez as escolhas tão incontroláveis, continuar lidando com a morte recriando ela sempre me pareceu a melhor saída. É preciso muito cuidado então, para não parecer fácil.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Outro

Desculpe-me o egoísmo.

Tem alguém gritando lá fora, e eu reclamando de solidão aqui dentro. Eu estou um pouco assustada. Na verdade, estou com medo. Não sei o que fazer. Sou incapaz , por medo, de descer e prestar ajuda. Eu choro. É um pouco assustador esse gemido todo à essa hora da madrugada. E o pior é que eu nem consegui enxergar a sua cara. A cara da mulher que gritava, assim, as duas e vinte e quatro da manhã. Que imobilidade a minha. A nossa. Agora tudo silênciou-se. Não na minha cabeça. Como faço? Estou um pouco apavorada com toda essa gritaria que se foi. A gente não tem como fugir a matéria. É isso que somos. Corpos. E eles machucam, rasgam, sanram. Como pode? Machucar assim um corpo. Eu sei, estamos cansados desse discurso. Mas não dá. O que se faz com essa nossa imobilidade? É que os gritos interferiram toda a minha possibilidade de reclamação sobre nós. Porque prefiro estar só à estar aos berros com alguém que me invade a matéria. Eu não sei se vou conseguir dormir. Eu sei que estou, agora, segura aqui. As portas estão trancadas. Mas não é possível tranquilidade agora. Me sinto tão minúscula. Não sei resolver o quadro torto pendurado na parede, e quero dar conta da rua. Como faço? Eu não sei se sou capaz de proporcionar alguma mudança. Eu quero abrir as janelas, pulá-las. Onde se muda o todo? Que incapacidade. Que incapacidade. Fico achando que esse teatro todo não modifica nada. Só aumenta a gastrite. E a rua continua distante.

Traça

Não me adiantam essas palavras, assim, jogadas no lençol. Ele foi a única coisa que restou de nós dois. Você diz que estamos em dessincronia. Eu entendo. Eu entendo. Eu não entendo. Não me peça para olhar para isso com naturalidade. Não sei se memória sustenta as paredes. Poderia sustentar, mas caso fosse verdade eu não estaria chorando. E eu não estou. Eu estou olhando para o relógio esperando você sair desse deslocamento todo e abrir a porta. Minto. Eu estou, chorando. E tentando ajeitar o relógio. CALMA. NÃO ESTOU FAZENDO DRAMA. NÃO VOU QUEBRAR OS MÓVEIS QUE AINDA RESTAM EM PÉ. Não. Eu vou colher meus gemidos e esperar coberta com suas palavras. Mas é bom. Eu sei que ali o corpo não esquece. Em nenhuma das paredes. A gente sabe. Mas eu não sei se aguento a espera. Vou ficar nutrindo-me de solidão? Isso dói. Ou não. Mas eu estou inventando essa dor, ou me doendo de verdade, para ver quantas onomatopéias eu aguento sozinha.

entrada

Cheguei a pensar que estava insegura, mas descobri que é alguma dor, incômodo mais fácil de resolver, no sentido de que a insegurança é sobre dois. E dois é exatamente o que temos, dois relógios desregulados, dois tempos desencontrados. E no meio me encontro justamente quando estou com você, em você. E tem o que ainda fica, as sobras, o que vem junto, o que o corpo não esquece, continua a crescer, o que não tem pausa de relógio regulado ou desregulado, o que talvez não se explique mesmo. E no meio do caminho sobrou o tubo de pasta de dente amassado, lençol, roupa e prato sujo, colcha amassada, ventilador ligado, chuveiro quebrado e não sei o que foi feito deles. Não sei deles porque fazem sentido só com você, isso tudo, esse nós espalhado. E você já foi. É só isso, questão de querer. Querer não ter que ir embora. Questão de querer não saber do momento de ir embora. De querer não ter que ir dormir sabendo que de dia vou ter ido embora. De querer não ter que ver o dia sabendo que de noite vou ter que. Só de não saber talvez já fosse um alívio nisso tudo que agora permanece. Acho, na verdade, que é esse saber, essa constatação que mata. Porque é o que se seguiu, é aí que nos vemos, desse saber da partida. Não quero mais saber. Não quero saber de nada. Saber que não vou ter que acordar e te ver ir embora não é a melhor opção, a melhor é a espera. Mas por enquanto só vislumbro ela, a espera. A espera pressupõe surpresa e te viver em um espaço de tempo que me permita todas as surpresas que você me trás diariamente. Que bom. Quero um dia, dois, três, quatro, ver todos os sorrisos de um dia, as caras feias, as possíveis lágrimas, as palavras, todas, sem medo, os sons, o silêncio. Poder presentificar mais tudo que se segue em mim sem pausa, tudo em mim que é por você, nos dias com o sem. Então talvez nem exista mais dias sem você, são só dias. E é de fato o com você que mais me interessa, de todas as formas. Nas formas que os nossos corpos pedem. Acho mesmo que quanto mais a gente tem mais a gente espera. Vamos abrir espaço no meio do caminho, agir pra criar um tempo só nosso e fazer ele chegar. Cansar as paredes. É mais simples, não se trata de nada que não tem nome e que se perdeu. Tem nome e está achado, encontrado e precisa ser vivido. Agora estou bebendo mais um vinho sozinha. Que bom, só que dessa vez a sobra foi pra dois. Foi mesmo. É. E apesar de tudo tenho certeza do que não morre, nem em saber qualquer, nem em espera. Vive e segue. O contrário seria impossível. Sem você as paredes não aquentariam.

Traço

Desculpa,
eu nem me permiti ler o que ela escreveu. Tão logo li a palavra abandono, achei melhor já escrever a presente carta sem me contaminar com aquilo vindo dela. Ainda porque, eu também estou tomado pelo abandono. Tomado pela necessidade que os pais têm em trabalhar para nos sustentar. Sustentar as crianças, que assim seja. Eu quero dizer, em relação aos móveis a gente dá um jeito, lustra todos eles, passa óleo, dispõe novos livros sobre as prateleiras fazendo com que emudeçam embrigadas por linhas. Com os cacos a gente junta num canto e faz da erosão obra de arte. A gente finge para o próximo vizinho que (não) entrará na nossa casa, que se trata de alguma coisa comprada no MoMA, eles se impressionariam. A gente compra garrafa de plástico. A gente tenta cozinhar o feijão. Mas a questão é que com a gente, de fato, não parece ter mais solução. Para onde vocês foram que não foi possível sequer deixar um aviso. Que eu tivesse acordado com um post-it escrito deus colado sobre o televisor. Que eu tivesse acordado com o requeijão fora da geladeira sobre a mesa, que eu tivesse acordado com a lâmpada queimada dando curto-circuito... Com tudo isso teria sido possível amenizar a vossa fuga, porque eu me perderia - mais uma vez - tentando esclarecer suas desculpas. Eu teria passado essas semanas fingindo haver um mistério sitiado dentro de casa. Mas não. A outra disse com precisão. Trata-se de abandono: e nesse caso, talvez não teremos mais força para controlar os gestos provocados pela necessidade que temos de ser amado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rabisco

Desculpa,
mas estou preocupada com as crianças. Elas não estão entendendo esse abondono. Alguém precisa acompanhar o dever de casa. Eu posso ficar reponsável pelas estantes. Não é mais um pretexto. Não. Ou é sim. Mas gostaria que não fosse. Elas podem chorar e espernear. Eu não vou culpar-me. Quer dizer, culparei-me sim. Não dou conta dos choros. E todos estamos chorando. OU A CASA FICOU TÃO GRANDE QUE NINGUÉ SE ESBARRA MAIS? Acho que podemos encolher os cômodos e ampliar os corpos. Sinto falta daquela implicância. Estpa me doendo agora a SAUDADE. dos CORPOS, os nossos. E os desconhecidos. Sinto falta dos corpos que ainda não rasguei. Não que eu queira rasgar. Sempre reclamo tanto desses cortes (do que faço e dos que sofro), mas essa calmaria toda deixa-me a impressão de que nada se movimenta, e seria tão bom que tudo se embaralhase novamente. Eu estou rabiscando as paredes, todo dia. É fome de corpos.