segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Acordei…

Não quis estar vivo. Acho que ao mexer a cabeça sobre o travesseiro alguma coisa aconteceu e por um segundo eu não quis mais existir. Depois me repreendi e pensei em uma série de tragédias, para tentar me dizer que a minha vida não estava tão ruim assim. É sempre assim, a gente precisa encontrar um motivo para durar mais um pouquinho. Acordei e tinha sujeira pelo chão do quarto. Acordei e tinha compromissos batendo à porta. Acordei com telefonemas. Fui educado. E ouvi logo ao desligar: quando você acordar eu falo com você. Acordei e quis não ter acordado. Acordei querendo ser sonho, ser pesadelo, ser outra coisa. Acordei e pensei em seringas, em começar mais um dia, em encontrar mais um dia. É verdade. O dia não amanhece ao seu lado. Ele nem vem, por vezes ele não existirá. E você passa o dia inteiro buscando alguma coisa na qual se agarrar e dizer: esse é o meu dia! E ai ele se vai e o dia então se foi, por isso acordei cheio de dúvidas. Acordei pensando em Godot. Acordei pensando em Miranda. Acordei com 3 telefonemas ao mesmo tempo. Acordei com o despertador. Quem deu ao despertador essa autonomia? Quem disse a ele que era permitido gritar ao meu ouvido logo tão cedo? Acordei e não sei. Acordei e continuo não sabendo. Acordei e não vejo a hora de voltar a dormir. Meu deus. Que sensação esquisita. Acordei no passado, no futuro, onde? O que foi que fiz com meu agora? Não o quero mais.

Nenhum comentário: