segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

high and dry

é sempre assim. ela vem, passa uns dias e depois vai embora. acho que ela só vem para dar a nós a vaga noção de sua existência. ela não quer ser esquecida. e por isso se marca em nós ao chutar a parede, ao calar a própria boca, ao se fazer de poesia e assim, se metaforizando, ser tudo e nada ao mesmo tempo.


olha, ela partiu. ficamos todos nós soltos de novo aqui dentro de casa. ela vem e vai. por que eu não posso ser assim? por que eu não posso sumir e voltar quando quiser? eu quero partir e voltar causando frisson, voltar causando alarde.


certas existências existem para nos fazer desistir de as requisitar.


certas existências marcam a falta a falta a falta a falta de ar.


eu queria que ela aqui estivesse mais. não somente fotografando os pés, não somente filmando a face. queria ela inteira isso não é pretensão é sinceridade.


mas fazer o quê?


um dia eu aprendi a perguntar as coisas a sei lá quem... desde então eu me acostumei a não ter respostas. fazer o quê? é retórica vazia e deprimida. é diálogo eterno com o vazio da espera de outrem. dela. espera dela. ou do trem. do trem. do trem sobre o trilho.


não, isso não te violenta. mas nem toda violência nasce predestinada a isso. às vezes ela acontece. e se eu te dou hoje um beijo, não saberemos, mas isso pode acabar contigo. e comigo. e com a criança na praça que avistar o nosso encontro.


desculpem, queridos.


estou um pouco alto.
estou um pouco alto.
e queria tanto estar com os pés no chão.


daqui a pouco eu volto.
daqui a pouco eu volto.
e quererei tanto estar sem pés nem chão.








que estranhos somos, não?



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