quinta-feira, 6 de maio de 2010

homorragia.

me viciei em me sentir vivo.

me viciei em ter você assumindo meus riscos.

me viciei em fumar seu corpo e não mais cigarros
em cheirar seu sexo e não mais este incenso abstrato.

me viciei em desmarcar compromissos para te entreter.

me viciei em ser macaco deste circo para dois.

me viciei em fazer faxina para você passar.

me viciei em me limpar para você sujar.

me viciei em ser engraçado para você rir
em ser justo correto e modesto
para você mais de mim exigir.

me viciei naquilo que não posso falar.

me viciei na sua pele.

me viciei na sua pele.

me viciei na sua mensagem
no seu telefonema
na sua grosseria
na sua falta de educação
na sua poligamia
na sua indefinição
na sua desculpa
na sua vergonha
na sua egotite
na sua ópera seca
na sua roupa aérea
na sua boca etérea

eu me viciei em te dizer sim
eu me viciei em te dizer sim
eu me viciei em ser o motorista
o mordomo
o segurança
que te trazia pós-balada
sujo e bêbado
mas a mim
sempre a mim

me viciei, é fato

resto agora à boca seca
deixando o vento apagar seu rastro
para viciar-me de novo
e de novo outro vez
em outro caso
improdutivo
impossível
ímpar

e hemorrágico.

a cicatrização de um diabético demora mais que o comum.

ainda bem. tem-se a sensação de que se está morrendo.

e isso distrái.

preenche o dia.

dá outra cor.

outra rima.

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