terça-feira, 16 de novembro de 2010

copo

falta de ar. É que não morrer, eu acho, a gente sabe quando as coisas vão acontecer, ou pelo menos aprendemos a saber delas. As coisas do mundo vão sim sendo entendidas por camadas do nosso pensamento. Precisava falar com você pra me acalmar naquela madrugada. Meu copo cheio, meu corpo no esforço da respiração pulsava. Meleca, cuspe, lágrimas, tudo junto depois que me fizeram me sentir em casa de novo. E pra isso, todo aquele aparato, já conhecido, remédios, cama, colo, telefonemas, lembretes para a casa, cuidados especiais. Especiais no pior sentido possível. Não queria ter que dizer isso, mas é o que acontece quando junta tudo de uma vez. E as camadas, os intervalos, as pausas. Elas são um problema quando deixam de ser escolha. Se chorei aquela madrugada meu amor foi por sentir que todas as escolhas naquele momento estavam escapando de mim, era uma espécie de prazo de validade. Isso cansa, estava só cansada e ouvir sua voz ainda era uma escolha pra mim naquele momento. Precisava que você me escutasse e respondesse por suas escolhas. É assim que as coisas funcionam, ou deveriam. O problema depois foi sua fuga de suas escolhas. Sim, suas sim, se são nossas então são suas também. Dá no mesmo. Mas sei que escolhas fogem do controle também e por isso não te julgo, só te culpo por não responder. Por silenciar a mudança, o susto, o impulso. Na verdade talvez uma atitude como essa nesse momento se torne imperdoável. É que a casa está vazia e não tem porque se perder, entrar pela porta errada. Pra mim está demais sustentar essas paredes e preciso de ajuda para minha saúde, meu tesão, meu tempo. me esforço para que nada saia do lugar nesse momento, pra saber que logo vamos ficar bem e bater as portas que quisermos, ara sermos minimamente livres entre tantas preocupações. A medida que o prazer aumenta a dor aumenta junto. É assim que é. Pra mim isso sempre ficou muito claro na tentativa de respirar minhas felicidades. Por isso talvez as escolhas tão incontroláveis, continuar lidando com a morte recriando ela sempre me pareceu a melhor saída. É preciso muito cuidado então, para não parecer fácil.

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