quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eles não sabem...

Eles não sabem, não sabem mais dos pesadelos de madrugada, não sabem das crises de frio. Eles não sabem do peso, nem pensam sobre a altura. Eles não sabem que podem criar menos problemas. Eles não sabem do auê que as crianças fizeram, nem do novo amor. Eles não querem, ou querem demais. Eles vão, eles vem. Eles não, ficam parados aí, estáticos, perdidos, partidos, sem entender o que está acontecendo que as paredes não são mais as mesmas. Eles não sabem quem pintou as paredes. Eles não conseguem se lembrar, não sabem do bolo, do café, só pensam no chá e nem sabem qual é o melhor pra dor de barriga. Eles falam alto demais e não se escutam. Eles não sabem que são escutados, não sabem do estojo manchado de corante rosa, não sabem sobre as cores, os pincéis, os carimbos, as marcas. Eles não sabem que aquela marca sumiu. Eles não sabem que apesar disso o corpo ainda se lembra daquela sétima queda, do machucado já sem ter pra onde crescer. Não sabem sobre o crescimento, mas procuram saber. Eles não sabem quem faz, nem quem pensa, muito menos como pensa. Não sabem da coleção de rolhas e das datas em cada uma delas. Não se lembram mais o porquê das datas nem o que aconteceu em 1989. Não sabem sobre o Caio, a Dominique, o Diogo e a Patricia, que não sabe do Diogo, que não sabe do Caio que não sabe da Dominique. Eles não sabem sobre o esforço, não sabem que eu sei. Eles não sabem que foi uma escolha. Não sabem nada sobre decisões. Eles não sabem que a dor é prazer. Não sabem do pouco dinheiro. Eles não sabem sobre os desdobramentos, sobre as apropriações. Sobre as madrugadas, sobre o que se escreve aqui. Eles não sabem sobre as risadas sem fim, sobre o fim delas, sobre o colo. Não sabem sobre as roupas sujas. Não sabem sobre o dia de páscoa nem sobre o Natal. Não sabem do enterro. Eles não sabem sobrea matriz dramática, sobre esta. Não querem entender o drama. eles não sabem como parar, como variar um pouquinho. Não sabem e querem, querem muito saber e molham todas as paredes por causa disso. Apertam os móveis, mordem as prateleiras, arranham os relógios, e depois olham e desejam ter a casa mais limpa de todas. E não sabem.

Um comentário:

Caio Riscado disse...

agora já estão inteligentes.