quarta-feira, 7 de abril de 2010

O PEITO DO PÉ DO PEDRO É PRETO

 

Dominique – Ai, Isa, por favor…

Diogo – Eu estava pensando o mesmo.

Dominique – Ah, gente. Por favor, né? Olha o que ela escreveu…

Diogo – Gente! Gente…

Dominique – Que foi? Achou muito ruim?

Diogo – Achei esquisito.

Dominique – Então dá a sua opinião, ué. Ela precisa saber. Eu preciso saber. Nós precisamos.

Diogo – Olha, acho que não dá para falar da casa com uma taça de vinho na mão.

Dominique – Tudo bem, acabei de apoiar sobre a mesa. Diz. Quer dizer. Digo: acho que a gente voltou naquela coisa que a outra tinha reclamado naquele dia. Não faz sentido escrever estou mordendo as prateleiras. Não foi isso?

Diogo – Foi. Disse isso e agora parte como se não tivesse seus objetos em cima das prateleiras.

Dominique – Que bom que você puxou o assunto. A vontade que eu tenho é de puxar os cabelos. Dela, no caso. Os seus estão tranquilos. Aliás. Alguma coisa mudou na sua cara. O que foi?

Diogo – Fiz a barba. Depois de não ser reconhecido pela familia.

Dominique – Até parece. Bom. De qualquer forma. Ela se foi. Eu não vou ficar implicando com você. Apenas. Precisamos conseguir alguém para suprir a falta dela? É falta? É o quê?

Diogo – Não sei. Não quero suprir.

Dominique – Facilita, por favor. Temos que suprir. Caso não. A gente vai acabar se batendo.

Diogo – Somos só nós agora né? Quem vai sobrar de nós dois?

Dominique – É verdade. Ninguém para romper nosso abraço. Eu não quero.

Diogo – Me abraçar?

Dominique – Enche a minha taça, por favor.

Diogo – Encho.

Dominique – Então enche.

Diogo – Espere.

Dominique – Está na sua frente, Dodô. Enche a minha taça.

Diogo – Di, espere eu acabar. Enchemos juntos.

Dominique – Ok. Vou beber o que resta da minha agora. Em homenagem a mim mesmo.

Diogo – Pensei que estivessemos bebendo a saudade.

Dominique – Não. Estamos bebendo SANTA CAROLINA – Cabernet Sauvignon.

Diogo – É gostoso.

Dominique – Melhor do que restar sozinho no meio da sala de casa.

Diogo – Mas eu estou aqui.

Dominique – Sim. Melhor, eu disse. (Após engolir várias vezes a saliva). Você acha que devemos expor o que estamos fazendo?

Diogo – O quê? Isso de fingirmos?

Dominique – Exato. Não fale ainda. Me diga antes se acha que devemos dizer ou se podemos seguir o restante dos dias guardando em nós este segredo?

Diogo – Faz quanto tempo que guardamos isso tudo?

Dominique – Desde quando começamos a escrever esta postagem no meu computador.

Diogo – Ah sim! Pensei que falávamos de outros fingimentos.

Dominique – Eu não quero… Obrigado pelo vinho. Eu não quero falar dos outros. Já estou bem saciado com estes.

Diogo – Falava de nós.

Dominique – Nossa. Você às vezes é tão direta que assusta. Pois bem. (Respira fundo). Eu não me considero um fingimento. Você se considera?

Diogo – Não. Mas achei que você tivesse falado algo assim : “Não sei porque não disse de uma vez…”

Dominique – Não entendi. De qualquer forma. Há coisas que eu queria ter contado a minha mãe que acabei não contando.

Diogo – Sempre existem coisas. Eu por exemplo não contei que fui ao cinema enquanto chovia.

Dominique – Eu não contei que era gay. Olha que pesado.

Diogo – Nossa, você me assusta. Acho que o “direto” é você.

Dominique – Enfim… Adoraria que minha mãe entrasse aqui e lesse tudo. O problema é que eu não sei se ela entenderia. Entende? Não sei se fingiria não ter entendido. Mas sabe? É como dizia aquela personagem: “Foda-se”…

Diogo – É. Digo, entendo. Eu te entendo. Ah, foda-se! Fala o que quiser.

Dominique – Chega desse papo. Vamos terminar o vinho. Postar a postagem. Ouvir música. Fazer café. Comer chocolate. Dormir. Acordar. E continuar tendo a sensação de que estamos vivos.

Diogo – Se você realmente me fosse, você diria : “ vamos começar o vinho. Ouvir a postagem. Ler a música. Trazer café. Beber chocolate. Acordar. Dormir.” E escrever tudo errado. Mas, enfim. Vamos.

Dominique – Então, let’s vamos. C’est possible?

Diogo – Je suis desolée! Sempre falo isso, mas não me lembro o que significa.

Dominique – Não tem que se desculpar. Escreva apenas sim. Em caixa alta. E em negrito.

Diogo – VAMOS.

2 comentários:

Isadora Malta disse...

maravilha!

agora, tem gente que é foda, né...é só botar uma taça de vinho na mãoq ue já começa a falar sobre aquilo que sempre se cala...

uhm...

tudo bem. vamos.

Anônimo disse...

Logo estarei de volta pra separar o abra'co de voc^es.