Dominique – Ai, Isa, por favor…
Diogo – Eu estava pensando o mesmo.
Dominique – Ah, gente. Por favor, né? Olha o que ela escreveu…
Diogo – Gente! Gente…
Dominique – Que foi? Achou muito ruim?
Diogo – Achei esquisito.
Dominique – Então dá a sua opinião, ué. Ela precisa saber. Eu preciso saber. Nós precisamos.
Diogo – Olha, acho que não dá para falar da casa com uma taça de vinho na mão.
Dominique – Tudo bem, acabei de apoiar sobre a mesa. Diz. Quer dizer. Digo: acho que a gente voltou naquela coisa que a outra tinha reclamado naquele dia. Não faz sentido escrever estou mordendo as prateleiras. Não foi isso?
Diogo – Foi. Disse isso e agora parte como se não tivesse seus objetos em cima das prateleiras.
Dominique – Que bom que você puxou o assunto. A vontade que eu tenho é de puxar os cabelos. Dela, no caso. Os seus estão tranquilos. Aliás. Alguma coisa mudou na sua cara. O que foi?
Diogo – Fiz a barba. Depois de não ser reconhecido pela familia.
Dominique – Até parece. Bom. De qualquer forma. Ela se foi. Eu não vou ficar implicando com você. Apenas. Precisamos conseguir alguém para suprir a falta dela? É falta? É o quê?
Diogo – Não sei. Não quero suprir.
Dominique – Facilita, por favor. Temos que suprir. Caso não. A gente vai acabar se batendo.
Diogo – Somos só nós agora né? Quem vai sobrar de nós dois?
Dominique – É verdade. Ninguém para romper nosso abraço. Eu não quero.
Diogo – Me abraçar?
Dominique – Enche a minha taça, por favor.
Diogo – Encho.
Dominique – Então enche.
Diogo – Espere.
Dominique – Está na sua frente, Dodô. Enche a minha taça.
Diogo – Di, espere eu acabar. Enchemos juntos.
Dominique – Ok. Vou beber o que resta da minha agora. Em homenagem a mim mesmo.
Diogo – Pensei que estivessemos bebendo a saudade.
Dominique – Não. Estamos bebendo SANTA CAROLINA – Cabernet Sauvignon.
Diogo – É gostoso.
Dominique – Melhor do que restar sozinho no meio da sala de casa.
Diogo – Mas eu estou aqui.
Dominique – Sim. Melhor, eu disse. (Após engolir várias vezes a saliva). Você acha que devemos expor o que estamos fazendo?
Diogo – O quê? Isso de fingirmos?
Dominique – Exato. Não fale ainda. Me diga antes se acha que devemos dizer ou se podemos seguir o restante dos dias guardando em nós este segredo?
Diogo – Faz quanto tempo que guardamos isso tudo?
Dominique – Desde quando começamos a escrever esta postagem no meu computador.
Diogo – Ah sim! Pensei que falávamos de outros fingimentos.
Dominique – Eu não quero… Obrigado pelo vinho. Eu não quero falar dos outros. Já estou bem saciado com estes.
Diogo – Falava de nós.
Dominique – Nossa. Você às vezes é tão direta que assusta. Pois bem. (Respira fundo). Eu não me considero um fingimento. Você se considera?
Diogo – Não. Mas achei que você tivesse falado algo assim : “Não sei porque não disse de uma vez…”
Dominique – Não entendi. De qualquer forma. Há coisas que eu queria ter contado a minha mãe que acabei não contando.
Diogo – Sempre existem coisas. Eu por exemplo não contei que fui ao cinema enquanto chovia.
Dominique – Eu não contei que era gay. Olha que pesado.
Diogo – Nossa, você me assusta. Acho que o “direto” é você.
Dominique – Enfim… Adoraria que minha mãe entrasse aqui e lesse tudo. O problema é que eu não sei se ela entenderia. Entende? Não sei se fingiria não ter entendido. Mas sabe? É como dizia aquela personagem: “Foda-se”…
Diogo – É. Digo, entendo. Eu te entendo. Ah, foda-se! Fala o que quiser.
Dominique – Chega desse papo. Vamos terminar o vinho. Postar a postagem. Ouvir música. Fazer café. Comer chocolate. Dormir. Acordar. E continuar tendo a sensação de que estamos vivos.
Diogo – Se você realmente me fosse, você diria : “ vamos começar o vinho. Ouvir a postagem. Ler a música. Trazer café. Beber chocolate. Acordar. Dormir.” E escrever tudo errado. Mas, enfim. Vamos.
Dominique – Então, let’s vamos. C’est possible?
Diogo – Je suis desolée! Sempre falo isso, mas não me lembro o que significa.
Dominique – Não tem que se desculpar. Escreva apenas sim. Em caixa alta. E em negrito.
Diogo – VAMOS.
2 comentários:
maravilha!
agora, tem gente que é foda, né...é só botar uma taça de vinho na mãoq ue já começa a falar sobre aquilo que sempre se cala...
uhm...
tudo bem. vamos.
Logo estarei de volta pra separar o abra'co de voc^es.
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