sábado, 6 de fevereiro de 2010

Fragmentos de uma dor contínua com pequenas pausas de raros minutos

O calor ficou insuportável. Tornamos a vestir os maiôs e atravessamos a praia correndo. Direto para o mar. Ginetta nadou para longe. Fiquei no raso.
O Libeccio cessou. Ou então foi outro dia sem vento.

Ou então era outro ano. Outro verão. Outro dia sem vento.

O mar estava azul, ali, aos nossos olhos, sem ondas, apenas um barulho extremamente suave, murmúrio de respiração em sono profundo. Os outros pararam de jogar e sentaram nas toalhas, sobre a areia. Ele se levantou e caminhou para o mar. Vim para perto da praia. Olhei para ele. Ele notou. Piscou os olhos por detrás dos óculos, sorrindo para mim, sacudindo a cabeça em pequenos movimentos, como se estivesse zombando. Eu sabia, sabia que em todas as horas, em todos os dias, eu não parava de pensar: "Ele não morreu no campo de concentração."

Fragmento do livro A Dor, de Marguerite Duras

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