Oi ,
Nem sei como dizer. É muito difícil estar aqui, assim , aberta , cheia de feridas à mostra. É difícil. Mas eu “tô”. Queria dizer sobre nós. Nossos corpos. A relação de nós dois. Primeiro queria falar sobre meu braço direito. Tenho três marcas , uma de infância , de um tombo de bicicleta , outra de uma vacina e a terceira é um pedaço da sua unha ainda cravada em mim. Você sempre foi mais forte. O engraçado é que eu não chorei. Seu excesso de músculo que te fez despencar sobre a chuva. Eu só corria. Bom, mas não é disso que vim falar. Quero falar de seios. Os meus. Você sempre achou grande demais pra suas mãos. Onde já se viu? Alguém reclamar de excesso... Eu reclamei você , e seu excesso de reclamação. Meu corpo reclamou seus pudores .Essa sua mania de criticar qualquer ato espontâneo do meu_ corpo. Eu estava ali, com meu corpo, e tudo que queria era a intensidade. Certo , eu me assustei com meus próprios movimentos ao redor de nós. É estranho falar assim, como se tudo ainda estivesse aqui, vivo. Mas, a verdade é que eu nem consigo movimentar-me em sua direção. Fico lembrando daquele terceiro corpo, que tem mais marcas que o meu , mais dores que o meu... Você o mapeou inteiro , e eu sobrei. Mas não chorei.Que isso fique claro, eu sobrei e estou aqui. Em pé. Na direção oposta de vocês. Porque eu corri demais tentando ser parte de algo de onde fui cuspida pra fora tantas e tantas vezes. Muitas vezes , eu me obriguei à agir com naturalidade enquanto vocês riam. Eu ria também. Deveria fazer isso , queria ser parte disso , de vocês. Três. Nunca foi meu número de sorte. Sempre preferi os pares aos ímpares. Acho que era pelo medo de sobrar. Eu “to” sobrando. Estou em frente ao espelho , e estou sobrando de mim mesma. Muito estranho eu falar isso para você, você deve estar rindo. Não me importo.Eu que estou sobrando, e quero gritar minha sobra. Eu não vou chorar. E nem espero que você volte. Aliais, a única coisa que eu quero é que você tire sua unha do meu braço , ta sangrando faz algum tempo. Mas veja como eu sou forte , não chorei. A sua unha vai sobrar! E eu vou rir. Eu “ to” rindo . Que delicia! Calo-me .Não era isso que eu queria dizer, nem rir, mas já escrevi e não permito rasuras de mim mesma. Deixa ficar. Olho para frente , esse espelho ainda é muito embaçado por lembranças. Acho que estou me cortando cada vez mais. Esse corpo estranho que eu olho , está todo aqui inteiro. Não quero apagá-lo , não posso. Chorei. Desculpa. Eu não queria. ( agora falo com minha própria imagem , mas vou continuar escrevendo à ti) Dói , e eu choro tanto . São tantas posições que me doem. Tantos olhos e risadas que me doem . Não choro pela lembrança , mas pelo excesso da falta. Só tenho de vocês o que ficou no corpo , alguns sons , a risada do outro e meu medo de sobrar. Acho que por isso sobrei.
E dói.
Dominique Arantes
Nem sei como dizer. É muito difícil estar aqui, assim , aberta , cheia de feridas à mostra. É difícil. Mas eu “tô”. Queria dizer sobre nós. Nossos corpos. A relação de nós dois. Primeiro queria falar sobre meu braço direito. Tenho três marcas , uma de infância , de um tombo de bicicleta , outra de uma vacina e a terceira é um pedaço da sua unha ainda cravada em mim. Você sempre foi mais forte. O engraçado é que eu não chorei. Seu excesso de músculo que te fez despencar sobre a chuva. Eu só corria. Bom, mas não é disso que vim falar. Quero falar de seios. Os meus. Você sempre achou grande demais pra suas mãos. Onde já se viu? Alguém reclamar de excesso... Eu reclamei você , e seu excesso de reclamação. Meu corpo reclamou seus pudores .Essa sua mania de criticar qualquer ato espontâneo do meu_ corpo. Eu estava ali, com meu corpo, e tudo que queria era a intensidade. Certo , eu me assustei com meus próprios movimentos ao redor de nós. É estranho falar assim, como se tudo ainda estivesse aqui, vivo. Mas, a verdade é que eu nem consigo movimentar-me em sua direção. Fico lembrando daquele terceiro corpo, que tem mais marcas que o meu , mais dores que o meu... Você o mapeou inteiro , e eu sobrei. Mas não chorei.Que isso fique claro, eu sobrei e estou aqui. Em pé. Na direção oposta de vocês. Porque eu corri demais tentando ser parte de algo de onde fui cuspida pra fora tantas e tantas vezes. Muitas vezes , eu me obriguei à agir com naturalidade enquanto vocês riam. Eu ria também. Deveria fazer isso , queria ser parte disso , de vocês. Três. Nunca foi meu número de sorte. Sempre preferi os pares aos ímpares. Acho que era pelo medo de sobrar. Eu “to” sobrando. Estou em frente ao espelho , e estou sobrando de mim mesma. Muito estranho eu falar isso para você, você deve estar rindo. Não me importo.Eu que estou sobrando, e quero gritar minha sobra. Eu não vou chorar. E nem espero que você volte. Aliais, a única coisa que eu quero é que você tire sua unha do meu braço , ta sangrando faz algum tempo. Mas veja como eu sou forte , não chorei. A sua unha vai sobrar! E eu vou rir. Eu “ to” rindo . Que delicia! Calo-me .Não era isso que eu queria dizer, nem rir, mas já escrevi e não permito rasuras de mim mesma. Deixa ficar. Olho para frente , esse espelho ainda é muito embaçado por lembranças. Acho que estou me cortando cada vez mais. Esse corpo estranho que eu olho , está todo aqui inteiro. Não quero apagá-lo , não posso. Chorei. Desculpa. Eu não queria. ( agora falo com minha própria imagem , mas vou continuar escrevendo à ti) Dói , e eu choro tanto . São tantas posições que me doem. Tantos olhos e risadas que me doem . Não choro pela lembrança , mas pelo excesso da falta. Só tenho de vocês o que ficou no corpo , alguns sons , a risada do outro e meu medo de sobrar. Acho que por isso sobrei.
E dói.
Dominique Arantes
2 comentários:
eu sobrei pq eu fui fraco.
viu como eu sou forte?
eu não chorei!
eu sobrei pq eu fui forte
eu sobrei pq eu não chorei
ser forte e incapaz de chorar é ser essencialmente sobra
e eu só fui forte
porque sobrei
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