... poemas e prosas da pasta rosa de ana c. + imagem postada em discussão na mesa do jantar
antes de ontem deu discussão na mesa do jantar. de novo. acho que a gente entendeu, não sei como, que a mesa de jantar é lugar de discussão e não de jantar. acho que ninguém comeu nada. a comida também estava fria. além disso, tinha uma cadeira virada. a outra sentou no chão, disse não vou levantar não fui eu quem deixou ela no chão. a outra, ainda mais indignada, começou a mexer nos talheres como se pudesse descontar neles o seu desespero. eu não falei nada, acho que nem estava na sala, porque não fui eu que coloquei a cadeira no chão, virada, impedida de ser cadeira. a mesa estava posta, mas quem foi que colocou a mesa, quer dizer, a cadeira no chão? quem foi que deixou ela virada? assim não dava para ter jantar. a gente se olhou, meio pausadamente. era como se olhássemos cada um para um parente morto sentado à mesa e depois, apenas depois, tivéssemos a medida de que sim, estávamos sozinhos. quer dizer, que sim, éramos apenas os três. depois disso a outra voltou a se emburrar. achei que fosse por causa da comida fria, mas não era culpa de ninguém. a comida esfriou porque não amamos o pão nosso de cada dia, por isso. não era culpa de ninguém. mas confesso. dava um silêncio entre a gente (entre os parentes mortos sentados à mesa) e todos voltávamos à questão. pode falar foi você? não fui eu você sabe que não fui eu qual é o problema em não sabermos quem foi? o peso dos parentes mortos fez todo sentido. nos olhamos. entre nós os avós todos os primos. tudo falecido na hora do jantar ganhava vida. talvez por causa disso a comida fria. talvez por causa disso os talheres intocados. talher de ferro é mais frio. talvez por causa disso permaneceram limpos, todos os guardanapos.
antes de ontem deu discussão na mesa do jantar. de novo. acho que a gente entendeu, não sei como, que a mesa de jantar é lugar de discussão e não de jantar. acho que ninguém comeu nada. a comida também estava fria. além disso, tinha uma cadeira virada. a outra sentou no chão, disse não vou levantar não fui eu quem deixou ela no chão. a outra, ainda mais indignada, começou a mexer nos talheres como se pudesse descontar neles o seu desespero. eu não falei nada, acho que nem estava na sala, porque não fui eu que coloquei a cadeira no chão, virada, impedida de ser cadeira. a mesa estava posta, mas quem foi que colocou a mesa, quer dizer, a cadeira no chão? quem foi que deixou ela virada? assim não dava para ter jantar. a gente se olhou, meio pausadamente. era como se olhássemos cada um para um parente morto sentado à mesa e depois, apenas depois, tivéssemos a medida de que sim, estávamos sozinhos. quer dizer, que sim, éramos apenas os três. depois disso a outra voltou a se emburrar. achei que fosse por causa da comida fria, mas não era culpa de ninguém. a comida esfriou porque não amamos o pão nosso de cada dia, por isso. não era culpa de ninguém. mas confesso. dava um silêncio entre a gente (entre os parentes mortos sentados à mesa) e todos voltávamos à questão. pode falar foi você? não fui eu você sabe que não fui eu qual é o problema em não sabermos quem foi? o peso dos parentes mortos fez todo sentido. nos olhamos. entre nós os avós todos os primos. tudo falecido na hora do jantar ganhava vida. talvez por causa disso a comida fria. talvez por causa disso os talheres intocados. talher de ferro é mais frio. talvez por causa disso permaneceram limpos, todos os guardanapos.
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